Aniversário do Comité Olímpico de Portugal
A campeã olímpica, mundial e europeia dos 10.000 metros – para além de recordista nacional de um vasto conjunto de provas e com uma carreira notável a todos os títulos ao longo de mais de trinta anos – foi a estrela mais brilhante que subiu ao pódio, esta segunda-feira, para receber o galardão máximo do Comité Olímpico de Portugal, a Ordem Olímpica.
Com uma “folha de serviço” diríamos que rara, Fernanda, nascida a 23 de Junho de 1969, começou a praticar a modalidade dez anos depois e, no ano seguinte, surgiu na mítica meia maratona da Nazaré para cumprir (como “sénior”) os 21.095 metros do percurso apenas a quatro segundos da vencedora … Rosa Mota.
A partir daqui foi um sobe e desce carregado de medalhas (nada menos de 14, a portuguesa mais medalhada) de ouro (6), de prata (5) e de bronze (3) em competições de categoria absoluta, para além de ter batido os recordes nacionais de todas as provas onde participou, desde os infantis, passando pelos iniciados, juvenis, juniores e seniores.
Fernanda é a mais internacional de todos os atletas (na modalidade) portugueses, com 67, 50 das quais em pista, aliás onde alcançou todas as medalhas em Jogos Olímpicos (5), campeonatos do mundo (7, incluindo a pista coberta) e campeonatos da europa (6, também com a pista coberta), ou seja, a atleta lusa mais completa.
Daí que a insígnia recebida, entregue por outra grande campeã, Rosa Mota, assenta-lhe na perfeição e por aclamação, com as mais de três centenas e meias de personalidades presentes a bater palmas em pé. Uma inolvidável noite para mais tarde recordar.
O evento, que mereceu honras de transmissão televisiva em directo (SportTV), teve ainda outros pontos altos (foram todos porque se distinguiram os melhores), marcou o 106º aniversário do Comité Olímpico de Portugal e onde esteve presente o novo responsável governamental pelo desporto, João Wengorovius Meneses, secretário de Estado da Juventude e Desportos.
Antes da distinção de Fernanda Ribeiro, foram distinguidos com a Medalha de Excelência Desportiva a judoca Telma Monteiro (ausente num estágio no Japão) e ao canoísta Fernando Pimenta
Telma conquistou, em 2015, o quinto título europeu, ganhou o ouro nos I Jogos Europeus (Baku) e foi líder mundial nos – 57 kg, concluindo o ano na terceira posição e com passaporte assegurado para os Jogos do Rio de Janeiro.
Por seu lado, Fernando Pimenta fechou o ano com a conquista de duas medalhas de bronze, uma no mundial e outra no europeu (K4 1.000), chegando à prata nos I Jogos Europeus e no K1 1.500 (prova não olímpica)
A Medalha de Mérito, concedida às pessoas, nacionais ou estrangeiras, que tenham prestado serviços relevantes ao Desporto Português e Olimpismo, teve como destino a medalhada (prata) nos Jogos Olímpicos de Pequim, pecúlio que foi aumentando sucessivamente. A distinção mais recente foi a atribuída pelo actual Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, e que foi a insígnia de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique e reconhecida pela Federação Internacional como novo membro do Hall Of Fame da modalidade.
A empresa portuguesa NELO, maior produtora mundial de kayaks, que fornece as embarcações de competição das grandes potências mundiais de canoagem, foi distinguida com o Troféu do Comité Olímpico Internacional, este ano dedicado ao tema “Desporto e Inovação”, procurando distinguir novas ideias e métodos utilizados no mundo do desporto, tendo o vencedor sido proposto pelo COP ao COI.
A empresa NELO é uma das maiores e mais bem-sucedidas empresas de kayaks do mundo, foi fundada em 1978 por Manuel Ramos que, desde logo, teve definida a sua prioridade: elevar a canoagem ao mais alto nível, assumindo uma posição sólida na vanguarda da tecnologia e inovação.
Outra triatleta, Melanie Santos, foi distinguida com o Prémio Juventude, que se destina a premiar o atleta nacional, de escalões jovens, que mais se tenha distinguido no ano anterior pela obtenção de resultados de excelência em competições internacionais ao mais alto nível desportivo. Importante pare esta atribuição é também o mérito académico do atleta premiado.
Melanie, neste ano, conquistou a medalha de bronze no escalão de Sub 23 tanto no Campeonato do Mundo como no Campeonato da Europa. Ainda durante o ano de 2015 estreou-se na categoria de Elites, tendo demonstrado excelentes indicadores para um percurso de preparação olímpica a longo prazo.
O jovem velejador João Carlos Rodrigues recebeu o Prémio Ética Desportiva, que se destina a premiar acções relevantes em prol dos princípios e valores da ética no desporto, susceptíveis de constituir exemplos virtuosos e pedagógicos. Na base desta entrega esteve uma alegada infracção de uma regra cometida pelo próprio no Campeonato de Portugal de Juniores, que o levou a solicitar à Comissão de Regatas a sua retirada da competição. Um gesto de fair play extraordinário, que lhe custou o título de campeão nacional, o que valoriza ainda mais a sua atitude exemplar.
Como momentos lúdicos, a gala do Comité Olímpico de Portugal contou com a colaboração da
Orquestra Geração, um projecto de responsabilidade social que é considerado uma das melhores práticas pedagógicas europeias e que utiliza o ensino da música como contributo para o crescimento harmonioso de crianças e jovens, alargando as suas perspectivas e oportunidades, orquestra é composta por 49 jovens músicos.
Houve também lugar para uma exibição do Ginásio Clube Português com uma coreografia chamada “Viagem para os Jogos Olímpicos Rio 2016″.e, a fechar, a actuação da cantora portuguesa Rita Guerra.
No discurso de encerramento, José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal, dirigindo-se ao novo titular da pasta do desporto no 21º Governo Constitucional, salientou que “o sucesso que tiver nesse desempenho será o sucesso do desporto português e de Portugal, pelo que conte, no que entender útil, com a colaboração leal do comité olímpico”, tendo reforçado que “a nossa obrigação é colaborar, não é obstaculizar. É ajudar e não dificultar. É facilitar não complicar”, reforçando que “estamos inteiramente disponíveis, preservando naturalmente a nossa autonomia, para o que entenda adequado na defesa do desporto e dos valores olímpicos”.
Especificando algumas questões que considerou importantes, José Manuel Constantino referiu que “o ano anterior aos Jogos Olímpicos representa sempre uma ocasião que se entende oportuna para lançar perspectivas e tendências em relação à participação portuguesa naquele
que é o maior evento desportivo à escala planetária”, adiantando que “a missão de valorizar socialmente o desporto requer uma abordagem distinta e uma mudança de perspectiva”, pelo que “o valor social do desporto e do olimpismo está para além do efémero destaque durante duas ou três semanas, ao longo de um ciclo de quatro anos em que o trabalho da maioria dos nossos atletas, dos seus treinadores e das respectivas federações permanece alheio ao conhecimento da generalidade dos portugueses”.
Constantino frisou ainda que “se, por vezes, somos críticos perante quem só repara no olimpismo no período dos Jogos e nos resultados de pódio, temos a obrigação de não incorrer em igual erro.
A participação numa missão olímpica obedece a um longo e apurado processo de programação, projectado num horizonte alargado a mais do que um ciclo olímpico”.
Atento a tudo o que aos Jogos Olímpicos respeita, nas várias vertentes, Constantino recordou que “terminamos um ano com excelentes resultados nas nossas missões e com apuramentos para os jogos muito animadores num número já vasto de modalidades, mas não ignoramos o que nos rodeia. Vivemos tempos difíceis, como ainda recentemente reconheceu Thomas Bach, presidente do Comité Olímpico Internacional” ao frisar que “o desporto contemporâneo está contaminado pela produção do espectáculo supermediatizado, com uma enorme capacidade de atracção de grandes públicos, explorado pelo mundo dos negócios e palco de afirmação e visibilidade de países e nações”.
Adiantou ainda o presidente do COP que “é neste quadro global que o mundo das organizações desportivas tem sido abalado por fenómenos graves, sejam na gestão de recursos financeiros com sinais de corrupção, seja em comportamentos que indiciam uma degradação das regras éticas como o são as práticas dopantes”.
Concluindo a recordar que “a montante de quaisquer medalhas, que quando ocorrem nos enchem de alegria, não podemos esquecer que a prioridade reside na mobilização do país para o desporto como meio de valorização humana e de desenvolvimento social”, fazendo um apelo a todos os agentes desportivos que “este é o nosso objectivo e é para ele que trabalhamos e para que ele tenha sucesso precisamos de todos”.
João Meneses, por seu lado, deixou algumas pistas sobre o que o novo governo vai promover dentro da “nova agenda para o desporto nacional para o que é precisa a colaboração de todos os agentes envolvidos e em que o comité olímpico será decisivo”, porquanto se vai dar “relevância a um modelo de desenvolvimento humano assente na cidadania” e que também há que encontrar “novas fontes de financiamento”, tendo assumido compromissos como “fazer pontes de convergência ao longo dos doze anos de ensino obrigatório dando prioridade ao desenvolvimento da pratica desportiva”.
A realização do II Congresso do Desporto – no seguimento do efectuado em 2005 – surge como a medida mais mediática até final do ano de 2016, de forma a sentir o pulsar de todos os “stakeholders” que gravitam na esfera do desporto nacional.
Uma festa diferente, mais atraente e onde o espirito desportivo e o fair play se sentiu com intensidade.