O Comité Olímpico de Portugal levou a efeito, esta segunda-feira, uma conferência dedicada ao Dia Internacional do Desporto ao Serviço do Desenvolvimento e Paz.
Tendo como pano de fundo a célebre (mais uma) frase proferida por Nelson Mandela, o maior ícone humano de toda a história em África, sobre o desporto como sendo um dos mais fortes – ou talvez o talvez o maior – instrumentos para criar a ponte com outras pontes em volta do mundo no que à paz diz respeito, coube a Vítor Serpa, director do Jornal A Bola, dissecar sobre a importância deste factor, que aliou à língua portuguesa, outra “arma” com peso substantivo elevado no mundo de hoje, em função da transformação das antigas colónias lusas em novos países.
Vítor Serpa fez uma “viagem” pela história do desporto referindo exemplos de integração social ao longo de várias décadas, como a questão racial, que se colocou nos casos da afirmação de Pelé e Eusébio como ícones do desporto-rei no Brasil, em Portugal e no mundo., tendo frisado que “o Desporto foi o criador das primeiras pontes de entendimento entre povos”, salientando ainda que, quando da visita da equipa do Belenenses a Moçambique – que acompanhou – constatou “uma surpreendente amizade em crescendo desde a chegada da equipa da cruz de cristo ao peito àquele país ante um certo nervosismo que a comitiva pressentia, acabando por ter tido uma espectacular receptividade de toda a população daquele país”.
Exemplos destes passaram-se por todo o lado, desde Cabo Verde a Angola, São Tomé à Guiné-Bissau, Goa a Timor, onde o falar português foi outra parte de primordial impacte.
Neste âmbito, Vítor Serpa passou em revista grandes campeões, sob a bandeira portuguesa, oriundos das ex-colónias que se revelaram como políticos nos novos países africanos de língua portuguesa, recordando os cabo-verdianos Nuno Delgado e Nélson Évora – medalhados olímpicos por Portugal – a par de Rosa Mota e Carlos Lopes, que também foram ícones para milhares de jovens destes países, tal como o foi a moçambicana campeã mundial Maria Mutola.
Vítor Serpa, frisou ainda que “o desporto e a língua são os elos mais fortes de uma comunidade geográfica e politicamente diversa com mais de duzentos milhões de cidadãos espalhados pelo mundo, elos que são os maiores responsáveis por nem os homens nem os deuses da história os terem alguma vez conseguido separar”, tendo rematado a excelente dissertação apresentada afirmando que “essa língua portuguesa à qual Vasco Graça Moura abraçava de uma forma tão especial apesar do seu destroçado lamento ao dizer-nos que não és mais do que as outras mas és nossa; crescemos em ti”.
José Manuel Constantino, presidente do Comité, teve oportunidade de divulgar que, hoje em dia, quando se trata da viagem de comitivas portuguesas ao estrangeiro, o protocolo das lembranças já não são apenas peças de arte ou outros produtos que marcam a cultura portuguesa mas sim bandeiras nacionais ou camisolas autografadas por este ou aquele atleta, o que confirma o impacte do desporto no relacionamento entre os povos.
Recordou, a terminar, uma frase marcante de Nélson Mandela que sintetiza na perfeição o âmbito desta data: “o desporto pode criar esperança onde antes havia desespero; é mais poderoso que o governo em quebrar barreiras sociais; o desporto tem o poder de mudar o mundo”.
O Dia Internacional do Desporto para o Desenvolvimento e Paz foi instituído pelas Nações Unidas em 2013, tendo sido celebrado pela primeira vez no dia 6 de Abril do ano passado, com iniciativas realizadas um pouco por todo o mundo.
Recorde-se que, em Portugal, coube ao Desportivo Operário do Rangel assinalar a referida data, promovendo um colóquio no qual intervieram representantes do Comité Paralímpico de Portugal, do PNED (Ética no Desporto), da Plataforma das ONG do Desenvolvimento e do Conselho Português para a Paz e Cooperação, que abordaram os temas alusivos ao próprio nome do evento definido pela ONU.
Pena foi que, associado a este Dia Internacional, tivesse passado em claro a comemoração do Dia Mundial da Actividade Física, também em 6 de Abril de cada ano, numa altura em que milhares de portugueses – mais ou menos informalmente – já “acordaram” para a prática da actividade física (e desportiva) como factor de promoção da saúde e do bem-estar físico e psíquico.