Portugal escolheu montar o seu acampamento em Gauteng, a mais pequena das nove províncias sul-africanas (1,4% do território deste país, ou seja, 17.000 km quadrados).
Quando ouvi a notícia, a minha reacção foi imediata: Google It! Num dos dialectos locais, Gauteng significa “Lugar do Ouro”. Parece que esta província é, historicamente, o “El Dorado” lá do sítio, onde a corrida ao metal precioso começou em finais do século XIX. As cidades de Pretória e Joanesburgo integram esta província, centro financeiro e industrial responsável por 40% do PIB sul-africano e 9% do Produto Interno de África. Nada mau…
Neste momento, esta região está “em obras”. Passo a explicar: está em marcha o projecto “Blue IQ”. Este programa pretende investir 1,7 biliões de Rand e concretizar 10 maravilhas nas áreas turística, tecnológica, dos transportes e da indústria de valor acrescentado. O Mundial de Futebol veio assentar muito bem neste capítulo, dada a renovação dos parques desportivo, hoteleiro e de vias de comunicação em curso.
Como referi na reflexão anterior, Carlos Queiroz conhece como poucos o terreno anfitrião do Mundial 2010, por isso a sua escolha deve ser ajuizada (independentemente do complexo desportivo e hoteleiro que venha a ser anunciado). Em termos de contexto regional e infra-estrutural, parece que nada irá faltar. Sobretudo, espero que a etiqueta “Lugar do Ouro” seja um bom augúrio para o Mundial.
Todos estes aspectos levam-me a estar mais entusiasmado com este Campeonato do que em 2002, altura em que o torneio Japão/Coreia do Sul abriu as portas da Ásia neste tipo de andanças. Talvez por África ser o menos desenvolvido dos continentes. Talvez pelos laços inevitáveis com Portugal. Talvez pelos enormes desafios aos organizadores e a todos os que irão competir ou assistir.
Nesta tentativa de percepção da mudança, estarei atento ao trabalho de três “malucos”: Tiago Carrasco, João Henriques e João Fontes. Estes jornalistas vão percorrer África em contagem decrescente para o Mundial e contar-nos as peripécias em http://roadtoworldcup.wordpress.com. Em África, temos visto algumas organizações engraçadas (Taças do Mundo e Campeonatos Continentais de Triatlo, por exemplo, que não saem nada baratinhos, acreditem em mim!) mas como isto, nunca.
De um ponto de vista meramente futebolístico, este Mundial também é uma segunda oportunidade para a FIFA mostrar que a rotatividade é um bom princípio. Todos esperamos que o jogo seja melhor do que em 2002 (lembram-se das arbitragens?). África já tem a paixão. Na prática, gostava de ver um Mundial como o EUA 1994.