Ética no Jornalismo Desportivo
Em questões de ética, no seu mais puro sentido, de certo que os exemplos dados pelo nadador olímpico Mário Simas e pelo jornalista Cândido dos Reis, fundador do jornal “A Bola”, foram, em português, dos mais significativos para o nosso país.
Estas foram duas das principais razões – quiçá conclusões – tratadas no decorrer do encontro “A Ética no Jornalismo Desportivo”, que levou ao auditório da Escola Superior de Comunicação Social (Lisboa) cerca de duas centenas de participantes, maioritariamente alunos do citado estabelecimento de ensino superior, entre outras figuras do desporto português.
Não foi citado mas a acção desenvolvida pelo diplomata luso Aristides de Sousa Mendes – que salvou da morte, às mãos dos nazis, milhares de cidadãos, contrariando ordens do governo português, e que veio a falecer na miséria e quase em alma – é um outro facto eticamente superior, mas a mais quando se salvam vidas com uma simples assinatura, devendo integrar o resultado do debate tido e promovida por gente ligada ao desporto mas, acima de tudo, cidadãos de um país que é o nosso Portugal.
Segundo Sidónio Serpa (Psicólogo), Mário Simas como que se “auto-derrotou” e não terá conquistado uma medalha pelo facto de, ao verificar que não tinha cumprido a regra de bater na parede da piscina quando da viragem, voltou atrás e completou o percurso muito longe dos primeiros, enquanto que, segundo Francisco Pinheiro (Investigador), “Mestre” Cândido “foi um dos maiores pensadores portugueses do século XX mas que nunca foi reconhecido pela Academia”.
O que deu de novo o mote a Sidónio Serpa para dizer quer “tenho medo que os académicos se fechem muito entre muros e cumpram apenas aí a sua formação sem conhecerem o que é a realidade do lado de fora”, frisando de seguida que “a ética obriga a escolher entre o bem e o mal, no cumprimento das normas fundamentais na vida e na sociedade, em especial em áreas como o jornalismo em geral e desportivo em particular”.
José Manuel Rosendo, jornalista da Antena 1, salientou que “a informação não é um negócio mas antes um bem público”, frisando que “os órgãos de comunicação social ao serviço de grupos económicos e empresariais rumam para o buraco final”, passando em revista a questão do “esvaziamento das redacções em relação aos jornalistas mais antigos, o que redunda num jornalismo menos reflectido e esquece a ética”.
Vítor Serpa (director de “A Bola”), salientou que a “ética da responsabilidade não é abstracta e é também cultural, essencialmente porque tem que haver memória”, culminando ao referir que “a objectividade é a principal questão do jornalismo desportivo mas sabe-se que o país não tem hábitos de leitura!”.
António Magalhães (Director-Adjunto do Record”), Sérgio Abrantes Mendes (Provedor da Ética Desportiva), Óscar Mascarenhas e Carlos Andrade (professores na ESCS), Rui Silva (antigo treinador de futebol no Benfica) e alguns alunos da Escola foram outros intervenientes no debate, recordando a frase final de Francisco Pinheiro ao dizer que “a dimensão histórica desportiva em Portugal não é considerada”, pese embora seja uma das áreas da sociedade de maior impacte imediato. Coisas…
Alexandre Mestre, secretário de Estado do Desporto e Juventude manifestou satisfação pela forma como vários factores foram abordados, de grande importância sobre a temática da ética, tendo concluído com o anúncio da realização, no dia 17 de Dezembro, no Museu do Desporto (Palácio Foz, Restauradores), de uma exposição sobre a “Evolução da Imprensa Desportiva em Portugal”.
Um encontro com sinal mais, que se pretende implementado amiúde, tendo a Associação dos Jornalistas de Desporto/CNID manifestado a intenção de preparar, a curto prazo, um programa de encontros temáticos.