Sexta-feira 24 de Novembro de 7995

Do mar e da celulóide vieram os “salvadores”

PIN_vf_jpeg_copJO2012 – Primeiro balanço – Pior do que em Atenas e em Pequim

Neste domingo, como se esperava, Rui Pedro Silva (desistente) e Luís Feiteira (48º, com 2.19,40, a mais de cinco minutos do seu melhor tempo pessoal), apenas cumpriram calendário na maratona.

Num balanço em cima do acontecimento – sem abarcar todas as vertentes em cada uma das modalidades em que os portugueses estiveram presentes – a Canoagem, a Vela e o Ténis de Mesa foram as que mais se destacaram.

No mar, sem dúvida que esteve a nossa maior virtude. E estamos em querer que nem terá havido grande surpresa com conquista da medalha por parte de Emanuel Silva e Fernando Pimenta (e os diplomas de Teresa Portela e a dupla Joana Vasconcelos/Beatriz Gomes) mas, antes, a falta de outra subida ao pódio.

Foi uma das poucas modalidade que comprovou a ascensão entre Pequim e Londres, assente num trabalho feito da forma bem planeada e que, ao longo deste três anos, foi cimentando a sua categoria internacional com a conquista de várias subidas ao pódio quer em termos europeus quer mundiais.

Por isso, o que não terá sido cumprido foi o objectivo de mais uma medalha, olhando bem para as classificações obtidas e confrontando-as com o que se concretizou nos europeus e mundiais até chegar à capital londrina.

Veio ainda do mar a segunda melhor classificação portuguesa nestes Jogos: Pedro Fraga e Nuno Mendes, com um diploma (5ºlugar) no Remo.

Esta a segunda modalidade que planeou e ganhou. Cumpriu à risca o trabalho iniciado para Pequim e em Londres só não foi mais longe porque o desporto é assim mesmo: nem tudo o que reluz é ouro.

Terceiro pólo positivo, o Ténis de Mesa. Aqui foram batidos todos os recordes portugueses: o maior número de presenças (dois individualmente, mais um para formar equipa e a primeira senhora portuguesa nuns Jogos Olímpicos) e as melhores classificações de sempre.

O relevo vai para a competição colectiva, onde os “celulóides” lusos (Marco Freitas, Tiago Apolónia e João Monteiro) concluíram com num diploma (5º lugar) à beira de entrar nas meias-finais perante uma Coreia do Sul que nos esteve “acessível”, mormente quando Portugal chegou ao 2-1. Só faltou um “set” para a história brilhar mais alto e mais longe.

Também aqui se poderá dizer que havia grande (moderadamente assumida para evitar eventuais “desastres”) expectativa, dado que equipa lusa se encontrava no 7ºlugar do ranking mundial deste ano.

As posições de João Costa (7º a 10 metros e 9º a 50 metros) acabam por ser uma boa presença, não sendo melhor porque a sorte, em especial na segunda prova, não quis nada com o nosso atirador, acabando por não entrar na final apenas por uma milésima. São os factores activos der um desporto algo “passivo” (apenas na forma física, porque mental é de extremo desgaste psicológico).

Positivas são ainda as (inesperadas?) prestações tidas pela dupla de cavaleiros. Na Dressage, Gonçalo Carvalho levou a sua montada ao 16º lugar (de meio finalista) entre 50 participantes, o que é excelente, assim como a actuação de Luciana Diniz, nos Saltos, onde também esteve muito bem ao terminar na 17ª posição.

Sem dúvida que aquela que causou o maior desagrado foi o Judo. Sabia-se, conhecia-se e vai continuar a manter-se, o alto nível dos nossos judocas. De uma certa maneira, teve um progresso (entre Pequim e Londres) algo semelhante ao da Canoagem, do Remo e o Ténis de Mesa.

No resto, surgem vários factores que se devem cruzar, especialmente na relação número de atletas presentes/classificações obtidas e, ainda, na aferição dos graus de dificuldade para as várias disciplinas, tendo presente a relação referida.

Outro factor é o das expectativas existentes (o que pensavam os técnicos responsáveis por cada modalidade) e eventualmente criadas (por eles e pelos próprios atletas).

A posição “oficial” foi conhecendo-se federação a federação, em especial ao lerem-se os contratos-programa assinados com o governo.

E logo aí a de judo assumiu que o objectivo era ter dois medalhados: Telma Monteiro e João Pina, os mais consagrados, por efeitos da sua brilhante carreira até aos Jogos. Só que Pina lesionou-se e não recuperou na totalidade as suas faculdades porque esteve parado bastante tempo. E isso é factor decisivo para o futuro.

Quanto a Telma, a ansiedade falou mais alto e grande parte da comunicação social, ao endeusar a jovem judoca, esta não resistiu e baqueou da forma como todos viram. Não importa se teve azar ou sorte. Isso é do jogo. Só quem joga é que pode avaliar o porquê da falha A ou B no momento X ou Y. Mas com “onze milhões sobre os seus ombros” – como foi referido num jornal nacional de grande tiragem desportiva – Telma caiu logo no primeiro combate.

Situação deste tipo, no que se refere à falta de sorte, reporta-se a Diogo Ganchinho que, habituado a pódios europeus, teve azar na segunda ronda de saltos de trampolim e foi parar a um 15º quiçá injusto.

Quanto ao resto da comitiva (77 atletas), praticamente não houve surpresas nas prestações tidas pela meia centena que ficou do 17º para baixo, questionando-se se o investimento de cerca de 15 milhões de euros (directamente pelo Estado, em contrato-programa, excluindo mais alguns largos milhares de patrocínios) foram justificados.

Por parte das federações, não há dúvidas: dirão que sim senhor!

Comparando com as prestações tidas em Atenas (2004) e Pequim (2008), em Londres Portugal baixou de nível, O que quer dizer que esta medalha de Pimenta e Emanuel foi a mais cara desde Atenas onde, recorde-se, Portugal obteve a melhor representação de sempre.

Em Atenas, Portugal teve três medalhas (Rui Silva, bronze; Francis Obikwelu, prata; Sérgio Paulinho, prata) e mais 10 finalistas, num total de 13 em finais.

Em Pequim, duas foram as medalhas conquistadas (Nelson Évora, ouro; e Vanessa Fernandes, prata) e mais sete finalistas, num total de 9.

Em Londres, Portugal conquistou uma medalha (Emanuel Silva e Fernando Pimenta, prata) e mais oito finalistas, num total de 9.

Juntando os meio-finalistas (entre o 9º e o 16º), Portugal somou 194 pontos em Atenas, 163 em Pequim e 157 em Londres.

Como disse Vicente Moura, “é indispensável mudar de paradigma, sob pena de, daqui a quatro anos, Portugal ser um país residual nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.”

E como e quem é que se muda? Parece não haver dúvidas: as federações. Não o Governo!.

 

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