Manuel Sérgio
O conhecido – e único filósofo do desporto em Portugal, como António Almeida Santos, o antigo presidente do PS teve oportunidade de salientar – lançou mais num livro. Polémico ou não, dependerá do ângulo com que cada um o interprete.
Para já, o facto de, de início, ter feito – na qualidade de adjunto – o preito a Jorge Jesus, ao escrever que “no tumulo da feira de vaidades, que é o futebol, encontrei um homem honesto, sincero e leal para com a honestidade, a sinceridade e a lealdade alheias”, acrescentando “ e, sobre o mais, encontrei um treinador de futebol que ressuma e irradia humildade, pois que, sendo um Mestre na sua profissão, é capaz de ultrapassar legítimos egoísmos e preconceitos e escutar e conviver e liderar o trabalho interdisciplinar”.
Como sempre, buscando razões que encontrou ao ler grandes escritores como Sócrates, Descartes e outros, o Doutor Manuel Sérgio procura dar uma visão, bem global da matéria que redundou na escolha do título: Crítica da Razão Desportiva.
Sem se poder fazer um comentário muito apropriado à “largueza” do tema em questão, alguma prosa é retida com num olhar mais atento e que, após a passagem de várias fases, ao longo de muitos anos, se chega a um ponto mais actual.
Aí, Manuel Sérgio, não tem papas na língua ao escrever: “a narrativa desportiva é, hoje, em todos os países, sem excepção, uma vitrina, uma passerelle, onde se movimentam os deuses mais idolatrados pelo consumismo actual” acrescentando que “o Capital e o Estado encontram, assim, no desporto, um espaço privilegiado de publicidade e de propaganda, respectivamente, onde o “prestígio nacional” se confunde com os grandes interesses da finança internacional”.
Sobre o título do livro, Manuel Sérgio refere que “a crítica da razão desportiva (que se insere no capítulo 1) é, em primeiro lugar, a crítica à ideologia que estabiliza e legitima a alta competição em que todos vivemos e que esconde o impacto das ciências humanas e de uma forte consciência cívica nesta área do conhecimento”.
Apenas para aguçar o “apetite” pela leitura, mais num naco de prosa de Manuel Sérgio: “arreigou-se no espírito de alguns intelectuais que a cultura desportiva é a cultura desportiva hegemónica (insolidária, meritocrática, desigual) e, ingénuos, descambam num clubismo doentio, que não passa de uma forma de exclusão intergrupal”.
Nos capítulos seguintes, são abordados temas como “O futebol e a religião”, “A vontade da consciência”, “O desporto e o desafio do sentido”, “Mourinho – a descoberta guiada”, “O universitário José Mourinho”, “André Vilas-Boas ou os novos líderes”, “Os usos do futebol”, entre outros, de forma a manter o leitor “agarrado” até à última página.
Atendendo à consistência do autor, ao longo dos anos, estamos na presença de mais uma publicação com conteúdo indispensável ao aumento da nossa cultura, seja de que ponto de vista seja.
A apresentação do livro foi feita esta terça-feira, no Palácio Galveias (Lisboa), numa edição do Instituto Piaget.