O assunto do dia é, ainda, a presença do amputado (duas pernas feitas de lâminas de carbono) Oscar Pistouris na equipa de 4×400 metros da África do Sul (depois de ter corrido individualmente na mesma distância e onde foi até às meias-finais), atleta que integrou a equipa sul-africana que obteve o terceiro lugar no apuramento para a final com um novo recorde nacional (2.59,21).
Entretanto, por razões que não foram conhecidas, foi retirado da equipa que tomou parte na final da mesma prova. A Federação Internacional continuava a impor que este atleta só podia integrar o primeiro percurso (porque em corredores separados, para evitar eventuais contactos com outros atletas quando da passagem do testemunho) mas os responsáveis pela equipa sul-africana optaram pela não inclusão de Pistouris.
Como se recorda, Pistouris teve que recorrer ao Tribunal Arbitral de Lausanne (TAS) para ganhar esta luta, dado que a Federação Internacional de Atletismo não o autorizou numa primeira fase.
Com base em pareceres médico-científicos, os juízes do TAS decidiram a favor do atleta, se bem que, mais recentemente, voltaram a surgir dúvidas (do quadrante científico) quanto à validade dos “argumentos” sobre os quais o referido tribunal concluiu por esta decisão. Mas foi dada e nada indica que tenha reversão.
Mas seja pelo que for, há uma questão (moral e ética) que tem de ser ponderada e analisada e que corresponde a uma dupla participação de Pistouris em competições diferentes e, ao fim e ao cabo, quase sobre a mesma tutela, face aos acordos que entretanto foram formalizados entre as federações internacionais de várias modalidades e o Comité Paralímpico Internacional, a vários níveis.
Ao ser obrigada a permitir a entrada de Pistouris, a IAAF terá de albergar todos os atletas portadores de deficiência que queiram participar, desde que cumpram os mínimos. Para isso terá – se ainda não o fez – alterar os seus regulamentos.
Mas há outra questão: deverá Pistouris ser autorizado a tomar parte nos jogos olímpicos, nos mundiais e nos europeus, destinados a atletas com e sem deficiência?
Como encarar que Pistouris tenha estado neste mundial de Daegu e, provavelmente, estará também no mundial de atletismo para a sua deficiência? No mesmo ano (caso Jogos Olímpicos e Paralímpicos separados apenas por um mês) ou em anos diferentes?
Parece que não será moral nem ético que isso venha a acontecer, até porque, como se sabe. Ou está num lado ou noutro!
A um ano dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Londres, será bom que, quem de direito, decida sobre o assunto de forma a evitar um atentado à moral e à ética.
Artur Madeira