Saber-se-á, terça-feira, de forma oficial, qual será o destino da moção de censura que os bloquistas anunciaram ir apresentar no parlamento no dia 10 de Março, um dias depois de Cavaco Silva ter tomado posse para o segundo mandato.
Tudo indica que não passará. Isto porque o PSD – o único partido que ainda não se pronunciou – apenas esta terça-feira fará alinhar o seu órgão político para definir o que vai fazer. E a decisão – para nós e em função do espectro mais global que podemos visualizar – só pode ser uma: votar contra.
Existem vários motivos. Em primeiro lugar, face à crise latente, é recomendável que o partido se resguarde para outros tempos, ainda que difíceis, mas quiçá mais favoráveis. Fazer cair o governo nesta altura seria o suicídio natural do PSD.
Daí, não poder haver pressa em chegar ao governo – o que desilude milhares de sociais-democratas que agoniam, há tempos, à espera de lugares aqui e ali, para não falar de outros, mais jovens, que há pouco se lançaram na vida política, como é dado adquirido na luta pela conquista da nova concelhia (que vai substituir a mais de uma dezena de secções que subsistirão até final deste mês, quando das eleições) do PSD de Lisboa, face a uma das listas já apresentadas. Os “boys for de jobs” regressam às mesas das refeições para conseguirem uma boa sobremesa, por enquanto ainda nas mãos de socialistas.
Por outro lado, como se tem verificado, o PSD continua a não conseguir provar ante o povo português que será capaz de dar a volta à actual situação. E o CDS, parceiro eventual e único, só vai aparecer depois do acto eleitoral. Será suficiente?
Ainda hoje não se sabe, ao certo e de forma objectiva, se a ajuda que o PSD deu ao governo (e aos portugueses) bateu a seu favor ou não. As sondagens feitas na altura fizeram subir o partido, pelo que, certamente, os seus dirigentes ficaram, obviamente, crentes de que o apoio foi considerado positivo. No entanto, verdade seja dita, parece que Passos Coelho está a conseguir segurar as pontas, isto é, travar alguns dos elementos (boys) do PSD pela sede em ir para o governo.
Se lermos as sondagens mais recentes, verifica-se que a diferença entre o PSD (36,3) e o PS (29,3) não difere muito do que então se verificava – tanto um como o outro desceram – se bem que isso, em termos globais, muda de figura. Somando PSD com CDS (10,2) chega-se aos 46,7, o que é menor do que a soma dos outros três: PS, BE (9,5) e CDU (9,2), que soma 48,0. O diferencial para os 100 % é de 6,3 mas a grande incógnita seria a questão de abstenção, que pode ir muito longe, fazendo fé na diminuição consecutiva de votos para as legislativas.
Mas se parece chumbada esta primeira “intentona” será que não haverá outra? Parece certo que sim. Quando? Só por altura da discussão e aprovação do orçamento para 2012. A não ser que surja algum “cataclismo”, não se vê Cavaco Silva a fazer seja o quer for para mandar o governo Sócrates à vida. PCP também apresentará moção de censura? É possível. Mas a acontecer só lá para a frente. O PSD ousará apresentar uma? Difícil. Tem receio de que fique tudo contra o partido.
Esta moção de censura – que apenas está anunciada e não concretizada – pode, ainda, sair de cena. O que será mais provável, dada alguma fraqueza (que o BE quer transformar em força) latente nos bloquistas no pós-presidenciais, onde levaram, a par de Manuel Alegre, um grande “banho”. Democrático mas não aceite sem azedume!
“A ver vamos, como dizia o cego” – empregando a sabedoria e os ditos lusitanos.
Luís Direito