Não há dúvida que foi uma das noites mais brilhantes de sempre para a história do futebol português, não só face à maior goleada que alguma vez infligimos aos espanhóis mas também ao ter havido mais dois momentos altos antes do jogo – e talvez aí o brio dos nossos jogadores se começasse a desenhar – que elevaram a auto estima nacional, com a homenagem a três artistas, como foi o caso de João Moutinho e Pepe (25 internacionalizações) e Cristiano Ronaldo (75), para além da despedida do funcionário federativo António Gonçalves, após 33 anos de trabalho, no que foi o seu último jogo.
Por isso, tudo rumava para o êxito global. Assim se iniciou a goleada ao campeão mundial em título.
Ainda não se tinha atingido o minuto e meio de jogo e já Nani dava nas vistas ao, isolado sobre a direita, rematar para Casillas defender para canto.
Mas o jogo ía-se estragando entre os 7 e os 9 minutos, quando Busquets, por uma entrada rija sobre Ronaldo, viu o amarelo, tendo o capitão luso, um minuto depois, feito o mesmo a um adversário (nítida desforra), pelo que também se viu amarelado.
A partir daí e pese embora a Espanha tivesse de posse da bola durante mais tempo, era Portugal que avançava mais rapidamente para a baliza contrária, como se verificou aos 21’ quando Postiga chega um nada atrasado e permite a defesa de Casillas.
Depois de um susto cercas dos 30’, quando David Silva surgiu isolado frente a Eduardo – Bruno Alves “esqueceu-se” de o policiar da melhor forma – e rematou para fora.
Portugal continua a dominar e aos 36’ a bola entrou na baliza de Casillas, num magnífico chapéu de Ronaldo, não tendo o golo sido confirmado porque Nani – que deveria ter ficado quieto – fez-se à bola numa posição de fora-de-jogo, que foi bem assinalado, pese este ter tocado a bola para além da linha de golo. O que conta é quando a bola parte e não quando chega. Isto para os menos “avisados”.
Um minuto depois (37’), Carlos Martins “afinou” a bota mas a bola não entrou porque Piqué rechaçou mesmo em cima d alinha de baliza.
Foram precisos mais 7 minutos (aos 44’) para, finalmente, o “morteiro” acertar na “mouche”. Na sequência de uma defesa de Casillas, a bola sobrou para o número 20 luso que chutou muito forte para o fundo da rede de Casillas, impotente para defender o remate tão direccionado e tão forte. Chegou o 1-0 merecido.
No segundo tempo, três substituições para cada lado. O que veio permitir o avanço definitivo de Portugal a caminho da goleada. Pepe e Dany foram mais eficientes que Marchena, Torres e Fàbregas, apesar de estar em minoria.
Isto porque, logo aos 47’, Postiga, após boa jogada desenvolvida por João Moutinho na direita, responde da melhor forma ao passe do ex-sportinguista enviando a bola para o 2-0.
Passaram dezanove minutos mais – a Espanha já não tinha o fio de jogo da primeira parte – e Portugal chegou ao 3-0, de novo por Postiga, novamente a passe de João Moutinho, que o isolou frente a Casillas, que não conseguiu fazer nada para impedir a bola de entrar na sua baliza.
Após isso, parecia que o jogo tinha terminado aí mas puro engano. Aos 90+2’, Hugo Almeida, que entrou para o lugar de Postiga, chegou ao 4-0 de uma forma mais fácil do que esperaria.
Em 89 anos de vivência desportiva na área do futebol sénior (de 1921 a 2010) nunca antes Portugal tinha ganho à Espanha por 4-0. O máximo foi de 3-1, em 1956, há 54 anos!) Entretanto, Portugal “levou” 9 de uma só vez (1934). O triunfo mais significativo de Portugal em relação à Espanha foi o triunfo (1-0) no Euro’2004, de “encher” o olho.
Na primeira parte, a equipa funcionou muito bem, salientando-se Bruno Alves, Carlos Martins, João Moutinho, Nani, João Pereira (cada vez mais atacante) e Postiga, destacando-se no segundo tempo Pepe, Manuel Fernandes e Hugo Almeida.
No lado dos espanhóis, Iniesta, Villa, Silva, Xavi, Sérgio Ramos foram os melhores.
Antony Gautier (França) não criou problemas nem apitou muito (dava quase sempre a lei da vantagem), sendo que o auxiliar Michael Annonier deixou passar ou dois foras-de-jogo que poderiam ter mudado o rumo dos acontecimentos. Nicolas Pottier foi o outro árbitro – auxiliar. As equipas alinharam:
Portugal – Eduardo (Rui Patrício, 45’); João Pereira, Bruno Alves, Ricardo Carvalho (Pepe, 45’) e Bosingwa; Carlos Martins (Manuel Fernandes, 62’) e João Moutinho; Nani (Paulo Machado, 86’), Postiga (Hugo Almeida, 75’) e Ronaldo (Danny, 45’).
Espanha – Casillas; Sérgio Ramos, Piqué (Marchena, 45’), Puyol (Arbeloa, 72’) e Capdevila; Busquets Xavi (Fàbregas, 45’) e Xabi Afonso (Llorente, 57’); David Silva, David Villa (Fernando Torres, 72’) e Iniesta (Carzola, 57’).
Golos – Carlos Martins (44’), Postiga (aos 49’ e aos 58’) e Hugo Almeida (90+2’).
Cartão amarelo para Busquets (8’), Ronaldo (9’), Fàbregas (72’).
Artur Madeira