Não foi nesta perspetiva – ainda que sempre atual – que Nuno Baião, diretor da Escola Maria Amália Vaz de Carvalho, salientou que Carlos Lopes foi “uma lufada de ar fresco” para Portugal quando este conquistou a primeira medalha de ouro nos Jogos Olímpicos para Portugal.
“Com os problemas latentes dos anos 80, esta conquista foi a prova de que, trabalhando-se mais e melhor, cada um pode atingir patamares de excelência em qualquer situação, desde que sejam criadas condições para a sua prossecução”.
Carlos Lopes que, em parceria com o saudoso Prof. Mário Moniz Pereira, como que foram criando o sonho que se foi transformando num pacto que durou até 1984, quando a medalha de ouro foi colocada no peito do icónico herói do desporto nacional, quando a bandeira portuguesa foi içada ao mais alto mastro do pódio e se ouviu o Hino Nacional. Uma Honra inigualável até a esse mítico ano.
A aluna Cláudia Gonçalves foi designada como moderadora – e esteve muito bem – para dar abertura a outra convidada, a Profª Ana Sobral, antiga aluna na Escola e andebolista internacional (presente em quatro campeonatos mundiais), que passou em revista a vida desportiva que a mantém “ativa”, depois de começar pela natação e ginástica, chegando a ter treinos três treinos por dia. Se quer ser melhor, treinar mais vezes, era o lema.
Mas todos aguardavam ouvir “a olímpica estrela dourada”, de seu nome Carlos Lopes.
“Não gostava de perder”! Foi a primeira frase do maratonista que, além de campeão, bateu o recorde olímpico, que só foi melhorado 24 anos depois. Mas este “não gostar de perder” tinha a virtude de “analisar logo a seguir o que se verificou, onde é que é as coisas não saíram como tinha idealizado, e outros pormenores importantes para as provas seguintes”. Extraordinário pensamento, assente numa força mental que sempre o ajudou, bem colado até ao espírito religioso que foi vivendo, porque crente.
Tal como aconteceu em 1972, nos primeiros Jogos Olímpicos onde participou, onde tudo foi ao contrário do que se esperava. E explicou tudo.
Mas a situação ainda não era a melhor, porque faltava qualquer coisa para “olear” o projeto como devia ser, o que só se verificou a partir de 1975, quando o governo decidiu aprovar o plano apresentado por Moniz Pereira, dando “asas” para que o grupo dos principais atletas portugueses da altura, pudessem ter condições para terem ordenados compatíveis com as necessidades e, de igual forma, fossem dispensados de funções por algumas horas por dia, considerando que era indispensável treinar mais e melhor (três treinos por dia).
Dito e feito, meia dúzia de meses depois (fevereiro de 1976), Carlos Lopes conquistou o primeiro título de campeão mundial alguma vez alcançado por um português, como foi o do corta-mato, na Grã-Bretanha, ano em que, no verão, alcançou a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Montreal (Canadá).
E por aí adiante até ao verão de 1984 para chegar ao título olímpico.
Citou ainda uma das partes menos positivas da carreira, quando esteve praticamente parado (1977/1979) e sem conseguir ter certezas do que poderia acontecer. Salvação que esteve nas mãos do Mestre Kiyoshi Kobayashi, um japonês que estava em Portugal para ajudar ao relançamento do judo e que decidiu ajudar o Lopes na recuperação, segundo os métodos orientais.
Mestre que cumpriria neste 9 de abril, 100 anos de vida, se estivesse entre nós. Centenário que foi lembrado pelo Judo Clube de Portugal e onde Carlos Lopes teve oportunidade de voltar a agradecer a intervenção de Kobayashi que lhe “deu nova vida”.
Entre outras coisas, salientou o fato de ter cumprido treinos que, ao longo do ano de 1984, totalizaram mais de 12.000 km, a rondar os três minutos por quilómetro, no que era a única e última possibilidade de poder ser campeão olímpico.
Com muito Treino, Resistência e Resiliência, Lopes superou-se dia a dia e o resultado admirável surgiu na tarde do dia 12 de agosto de 1984 (pela madrugada em Portugal), com o sonho concretizado.
A finalizar, além de agradecer a receção e a atenção que os alunos dispensaram, Carlos Lopes ofertou coleções de dois livros, onde é relatada a vida desportiva global (da autoria dos jornalistas António Simões e Rogério Azevedo), à direção e à coordenadora da área do desporto da Escola Maria Amália Vaz de Carvalho, respetivamente Paula Bandarra e Ilídia Neves, uma escola que também prima pela igualdade e integração.