Liceu Camões comemorou 115 anos de vida e surgiu renovado nos 500 anos do poeta que lhe deu o nome.
“Nem me falta na vida honesto estudo
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente.”
Uma das frases da autoria do grande poeta português, Luís Vaz de Camões, que esta quarta-feira voltou a ser recordado na inauguração da requalificação (agora completada) da Escola Secundária de Camões, em plena Lisboa, estabelecimento de ensino por onde passaram, ao longo de 115 anos, grandes figuras da vida portuguesa, citando apenas dois: o imponente secretário-geral da ONU, António Guterres, e o técnico de atletismo Mário Moniz Pereira, o primeiro a levar um atleta por si treinado a conquistar o título de campeão olímpico para o desporto nacional.
Concluída em 1909, a Escola Secundária de Camões (outrora Liceu de Camões), da autoria do arquiteto Ventura Terra, integrou o primeiro conjunto de edifícios escolares da 1ª República, tendo o projeto sido iniciado em 1907, que foi apresentado, à época, como uma verdadeira arquitetura de utilidade pública, funcional e racionalista, numa reinterpretação dos modelos franceses dos Lycées.
Localizado na zona de expansão de Lisboa, resultante do plano urbanístico de Ressano Garcia, aa Avenidas Novas, o Liceu de Camões reflete a tendência para o afastamento dos edifícios liceu dos centros urbanos, verificada no início do século XX.
Recorrendo às novas soluções construtivas da época, como a utilização mista de ferro e do tijolo, Ventura Terra projetou uma peça moderna que inscreve no terreno um alongado retângulo secionado por três outros.
O esquema compositivo privilegia as salas abertas para o pátio e galerias exteriores cobertas, que articulam entre si os corpos do edifício, proporcionando aos alunos o usufruto de múltiplos espaços de recreio.
Com este projeto, Ventura terra criou um exemplo da capacidade de resolução de problemas associados a uma obra deste género, resolvendo de forma eficaz questões relacionadas com higiene, vigilância, economia e conforto, comtemplando a possibilidade de futuras ampliações.
Hoje, a Escola Secundária de Camões é composta por um conjunto disperso de seis edifícios (Principal, Pavilhão de Física, Pavilhão de Química, (antiga) Escola de Artes Decorativas António Arroio, Auditório Camões e Pavilhão Gimnodesportivo, a que foi atribuído o nome do Professor Moniz Pereira, que foram construídos ao longo do tempo para colmatar diferentes necessidades, nomeadamente a adequação da infraestrutura escolar ao número crescente de alunos e a necessária adequação da infraestrutura escolar a novas exigências curriculares.
Na sua intervenção, João Jaime Pires, diretor da Escola Secundária de Camões, passou em revista a história dos últimos treze anos, recordando que “o projeto ora findo iniciou-se em 2011, tendo sido necessário conseguir financiamento, pelo que foi feita uma Gala para angariação de fundos, onde Júlio Isidro (presente na sala) teve um papel preponderante para que se conseguisse uns milhares de euros
para, em 2019, se dar o “pontapé” de saída para a recuperação avançasse”, tendo-se completado em Setembro de 2022 o fim da primeira parte, com o final de agosto último a servir como obra concluída”, para a qual contribuíram muitos: trabalhadores, funcionários da própria escola, amigos e os muitos anónimos que deram uma ajuda precisa e concisa para se chegar a este dia da inauguração”, manifestando “um agradecimento enorme a todos os que contribuíram para este final feliz, onde cerca de 2.000 alunos, no dia a dia, vivem e convivem, respiram e suam para serem os melhores dos melhores, reforçando o escol das personalidades que neste espaço temporal souberam segurar e superar todas as dificuldades que foram surgindo, como os casos da mais de uma centena de funcionários”.
Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa interveio para “falar do papel da escola na história da cidade de Lisboa”, recordando “um passado para projetar o futuro”, sempre importante no relacionamento humano e num local (Escola) onde a educação esteja sempre presente.
Na altura, um reduzido grupo de “estudantes” não se coibiu de causar um relativo mau estar no excelente ambiente que se viveu – porque era de festa para todos – o que demonstrou uma falta de educação que se mantém atual em determinadas camadas da população, que se manifestam por tudo e por nada, mandando a ética para a “sargeta”.
Júlio Isidro, antigo aluno, o homem da gala (2013) para recolha de fundos e o “Senhor Inesquecível” também tomou a palavra para recordar alguns momentos que viveu desde há 70 anos para cá quando, com 10 de idade, entrou pela primeira vez nesta Escola de referência nacional para fazer as provas de admissão, com resultado positivo e … quando iniciou o uso da gravata!
“Quando se comemoram os 500 anos de Camões, os 115 anos da Escola e os 50 da Liberdade em Portugal, não posso deixar de recordar vários colegas e professores, como Moniz Pereira” – citou.
Depois das palavras da presidente da Associação de Estudantes e da entrega dos diplomas aos melhores atletas do último ano letivo, Fernando Alexandre, Ministro da Educação, teve oportunidade de “parabenizar” João Jaime Pires, o diretor da Escola, “pelo excelente trabalho desenvolvido ao longo da sua carreira, em especial nestes anos em que se projetou e concretizou a requalificação da escola ao mesmo tempo que também era docente”.
Salientou ainda que “se está a implementar um plano de investimento para se poder fazer trabalhos semelhantes noutras escolas, porque são importantes, depois de muitos anos sem que houvesse, por parte do Estado, investimento sério nesta área”.
Referiu ainda que “Lisboa é um dos três concelhos que menos alunos aporta ao ensino superior, precisamente onde existe a maior fatia de falta de professores”, tendo ressalvado que “nesta Escola de 2.000 alunos só existe, neste momento, um professor de baixa. O que é um privilégio, mas também um maior desafio e uma mais lata responsabilidade”, tendo tido ainda oportunidade de “prestar um agradecimento ao diretor da Escola”, prometendo não “interferir na sua decisão”, ainda que “precisamos de mais professores para se entrar no caminho certo em conjunto com as expectativas dos alunos”!
Como se pode ver na imagem, esta terá sido a primeira homenagem ao diretor João Jaime Pires, que juntou o útil ao agradável e poderá aposentar-se a partir do próximo ano, cumprida que foi a longa e penosa luta pela requalificação da Escola Secundaria de Camões, ora concluída! Com mérito!
Uma cerimónia que se iniciou com um momento musical, onde os “Músicos do Tejo” tiveram oportunidade de brilhar, grupo que é constituído por Joana Seara (soprano), Marco Oliveira (voz e viola fado), Nuno Mendes (violino), Denys Stetsenko (violino), Álvaro Pinto (viola), Ana Raquel Pinheiro (violoncelo), Marta Araújo (Cravo) e Marcos Magalhães (Cravo e Direção).