Sexta-feira 22 de Novembro de 2024

Rock In Rio Lisboa 2010 – Dia 3: Sonhos cumpridos… ou desfeitos

RockinRioPublico3O dia 27 de Maio surgia no calendário do Rock in Rio Lisboa repleto de expectativas, das mais duradouras e poderosas.

{jathumbnail off}Sobretudo pela presença dos Muse – estiveram recentemente em Portugal, esgotaram salas e deixaram alguns dos seus fãs sem possibilidade de os acompanhar ao vivo – e dos Snow Patrol, banda de culto britânica que actuou pela primeira na capital portuguesa e que foi acumulando uma legião de apaixonados, ansiosos por um primeiro contacto in loco.

Depois de, em 2003, se terem tornado um agrupamento de peso mundial, com a saída do trabalho Final Straw, os Snow Patrol tornaram-se um caso sério de sucesso nas tabelas musicais SnowPatrolRockinRioe mantiveram um fiel grupo de seguidores entre nós. Os britânicos estavam delirantes com a presença em Portugal e com o acolhimento. O vocalista e guitarrista Gary Lightbody parecia até surpreendido com o poder das suas criações musicais, à solta no anfiteatro da Belavista: “incrível, do meu quarto para 60 mil pessoas em Portugal”. Desde o arranque, os Snow Patrol captaram a atenção da audiência e souberam temperar o seu espectáculo, ora com os temas conhecidos e sem os quais seria impossível reconhecê-los (fantástica a interpretação de Hands Open, Run, Chocolate ou Shut Your Eyes), ora com pérolas menos cobiçadas, mas igualmente fortes no actual universo pop (realce para Crack the Shutters, assim como para Make This Go On Forever).

MuseRockInRioQuando pisaram o palco, os Muse tinham perante si uma multidão ululante, frenética mesmo, preparada para os seguir até aos cumes mais elevados da excitação melódica. E não se pense que tal espírito se devia apenas a corações adolescentes. Entre o público, detectavam-se pontuais cabelos grisalhos. Prova cabal de que a banda de Matthew Bellamy é alternativa não apenas para os mais jovens, que consegue cumprir objectivos trans-geracionais tão raros entre os projectos hoje no activo e que fizeram o seu tirocínio há menos de uma década e meia.

Em Lisboa, os Muse foram inteligentes e evitaram prelúdios e intersecções musicais demasiado complexas e longas, bem como propostas do seu cardápio que obrigam a maior concentração. Serviram, sem aperitivos, o seu prato forte. Quer isto dizer, canções diabolicamente eficazes e naturais hinos para qualquer festival que se preze, como Uprising ou Undisclosed Desires – retirados do magnífico álbum The Resistance. Os Muse fizeram, no entanto, questão de ir ao baú das memórias e brindaram-nos com rendições bem conseguidas de Starlight, Supermassive Black Hole, Apocalypse Please, Hysteria ou Sunburn.

No final, as almas quedavam-se extasiadas e as ilusões já não eram ilusões, porque os Muse e os Snow Patrol deram tudo e tudo receberam.

Embora com resultados menos brilhantes, XutosRockInRioo empenhamento dos Xutos e Pontapés e dos Fonzie foi igualmente absoluto. Os monstros do rock português percorram a sua rica história de pujantes cantos, desde Não Sou o Único, até Contentores, Chuva Dissolvente, À Minha Maneira ou Dia de S. Receber, sem esquecer brindes mais recentes aos admiradores, como Ai Se Ele Cai. Já os Fonzie (convocados à última hora para substituir os SUM 41, cujo baterista sofreu um acidente) quiseram afastar os receios de uma plateia tão desproporcional ao seu perfil com doses maciças de genica, muitos pulos e marotas FonzieRockinRioprovocações (“estamos aqui apenas para vos aquecer, porque o que é bom vem a seguir”… “onde está o vosso espírito de Rock in Rio?”). Conquistaram o sonho de tocar num festival desta envergadura e encontraram simpatia no público (apesar do som ser, por vezes, de qualidade duvidosa).

Sonho muito menos concretizado nasceu da congregação de esforços entre Jorge Palma e Zeca Baleiro, no palco Sunset. A dupla tinha tudo para dar certo. Dois cantautores geniais, com o dom da palavra e um timing impecável para lançar o refrão, figuras marcantes em palco, comunicadores de primeira água. Porém, por razões que a razão desconhece, a química falhou. Zeca esteve competente nas suas músicas (Babylon, Salão de Beleza, etc.) e produziu uma interessante e profunda versão de Bairro do Amor, com cumplicidade soturna de Palma. JorgePalmaRockinRioTodavia, o restante espectáculo revelou-se desligado, com os dois cantores/poetas – em particular Jorge Palma – a não conseguirem passar a fronteira para o outro lado, no interesse da simbiose. Palma pareceu mesmo ter deixado o trabalho de casa por fazer, já que algumas canções de Zeca Baleiro exigiam preparo aturado (em Telegrama, o cantor português atropelou-se entre palavras demasiado rápidas para o seu ritmo interior). Restou, no fecho, o resgate generoso a cargo de Rui Veloso, João Gil e Lúcia Moniz, que em conjunto com a banda de suporte arrebataram uma segunda interpretação de Frágil. A provar que, nos momentos de fragilidade, os amigos contam.

 

 

 

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