{jathumbnail off}A rebentar pelas costuras… literalmente! Assim se vislumbrou a Moda Lisboa no terceiro dia de apresentações para a próxima época Outono/Inverno, com o Museu do Design e da Moda (MUDE) e o Páteo da Galé a revelaram-se acanhados para tamanha avalanche humana, sedenta de novidades e brilho.
O deslumbramento iniciou-se a meio da tarde no MUDE, graças aos contributos de projectos integrados na plataforma LAB, espaço onde a Moda Lisboa acolhe os mais jovens e arriscados criadores. As atenções foram partilhadas pelo projecto aforestdesign (de Sara Lamúrias) – começa a tornar-se um habitué nestas andanças -, pelos estímulos à la Lara Torres (o seu coração partido entre Lisboa e Londres faz maravilhas em prol a modernidade) e pelo portuense Ricardo Andrez . Este último surpreendeu com um vestuário masculino atrevido, assimétrico, com uso ponderado dos vermelhos, brancos e tonalidades bege. Múltiplos padrões geométricos casaram-se, em harmonia, com peças complementares lisas.
Já no Páteo da Galé, Aleksandar Protic manifestou profunda paixão pelo negro. O sérvio de nascimento e alfacinha adoptivo (possui uma loja de nome respeitado no Bairro Alto) fez profissão de fé nas linhas verticais e nos dourados, a brotar da brutal ausência de cor. O uso recorrente de fechos corridos, da maquilhagem neo-gótica e da simplicidade na escolha e sobreposição de tecidos fez o resto. Sem dúvida, uma incursão feliz no vestir nocturno, com um toque de sortilégio no ar.
Miguel Vieira optou, nesta estação, por assumir uma veia profundamente cinematográfica, no homem e na mulher. Destaque para o olhar resguardado e enigmático, submerso por poéticos óculos de sol e generosos chapéus de aba larga. Para o imaginário masculino sobressaíram os fatos de corte justo, blusões de cariz aeronáutico, em desprendida alusão militar, corrompida por pequenos tiques a fazer lembrar o grande Marlon Brando (boinas à cabeça) e bota alta. Para o universo feminino, Miguel Vieira preferiu a dupla branco-preto, interrompida apenas por reflectidos intervalos de pele e de metal.
Os tons terra e o conforto exuberante dos anos 70 inspiraram Pedro Pedro. O criador deixa o pescoço feminino bem coberto e aconchegado e liberta o tecido sobre a cintura e as pernas, privilegiando complexos padrões geométricos, finamente urdidos, filas de laços e malhas que assentam firmes no tronco. Uma palavra ainda para a fivela e o couro, amigos inseparáveis que aqui regressam em bom estilo.
A marca Salsa aponta caminhos aquém da vanguarda, mas ainda assim mostra-se competente em captar os sinais dos tempos. Na Moda Lisboa colocou propostas em torno dos cinzas, azuis marítimos e preto, oscilando entre as linhas verticais e horizontais. No calçado e nos adereços, a visão Salsa para o homem lembra uma versão polida do rude homem do Alasca. Na mulher, os motivos estampados, cintura bem recortada e mãos sempre enluvadas de rosa-carmim e azul penetrante são indícios de auto-confiança.
Por fim, Nuno Baltazar. O criador que veste Catarina Furtado, Carminho e Mafalda Arnauth suscitava enormes expectativas na plateia. As suas ideias para o Outono/Inverno centram-se numa mulher-criança, entretida a espreitar por entre rasgos de sedução. Vestidos amplos, com falanges de ligeiras variações cromáticas, nítida descontracção nos adereços e despojamento nos materiais.