A psicóloga Rute Agulhas, a gestora de projecto do Comité Olímpico de Portugal, Joana Gonçalves, e Carlos Farinha, Director Nacional Adjunto da Polícia Judiciária (PJ), alertaram para a urgência de se combaterem os tabus que existem à volta dos abusos sexuais no desporto, no decorrer um webinar organizado pelo Departamento de Actividade Física e Desporto da Câmara Municipal de Lisboa.
A psicóloga Rute Agulhas alertou para o facto de o abuso sexual no desporto “ser um tema pouco falado”, o que pode propiciar a multiplicação de casos. “É importante começarmos a ter a coragem e a disponibilidade de trazer a temática para o topo da agenda política e desportiva”.
Perita Médico-legal há mais de vinte anos, Rute Agulhas trouxe à conversa diversas situações que acompanhou de perto na sua função de perita, referiu-se a algumas situações que tem a ver com as características de uma ou outra modalidade e da proximidade que existe entre treinador e atleta, que propicia contactos em várias situações sendo, por vezes, difícil descortinar possíveis “tangências”, que podem “resvalar” para o abuso, em especial nos mais jovens.
Joana Gonçalves, Comité Olímpico, referiu a existência de “algumas autoridades públicas” a actuar “com alguma negligência perante sinais evidentes de abusos”, verificando-se a “ausência de uma actuação mais robusta” que possa combater o fenómeno.
Referiu-se também à questão de se saber qual é a “fronteira”, no contexto desportivo, em que é muito difícil saber qual é, o que provoca a existência de uma “zona cinzenta”, pouco trabalhada porque complexa.
Carlos Farinha (PJ), considerou ser “tabu” falar de crime sexual no desporto, porque as “actividades desportivas são exactamente o contrário em termos de valores daquilo que significa o crime de abuso”, por serem uma área onde existe a “intimidade do balneário” e a “proximidade física”.
Salientou a experiência que tem por um serviço de 40 anos na PJ, lembrou o que o Código Penal define em relação ao “abuso” (especialmente na área sexual), recordou o caso Casa Pia, reforçando que é preciso prevenir para evitar que as situações aconteçam.
Aconselhar os pais para abordarem com os filhos este tipo de situações e apresentarem queixas que sejam palpáveis; pedir o registo criminar dos técnicos, monitores ou outros agentes desportivos para poderem desempenhar as respectivas funções mas, acima de tudo, que haja mais educação.
É que, como se bate (tem sido provado ao longo dos tempos), “os problemas começam nas nossas próprias casas”.
Educar para o abuso, saber ler os sinais de alerta e a implementação de um conjunto de ferramentas pedagógicas para os pais e alunos, foram algumas das guide-lines referidas.
João Pedro Monteiro, Director do Departamento de Actividade Física e Desporto da Câmara Municipal de Lisboa foi o moderador, num webinar oportuno.