Domingo 24 de Novembro de 7574

O Movimento Olímpico e a Promoção da Paz tendo presente os Refugiados

O Dia Internacional do Desporto para o Desenvolvimento e a Paz foi aprovado pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, por decisão tomada em 2013, para ser implementado a partir de 2014, enquanto manifestação mundial para comemorar esta tripla ligação de Desporto, Desenvolvimento e Paz.

COP-6AbrilRefugiados-09-04-2021 Este propósito, este ano, voltou a integrar as actividades que o Comité Olímpico de Portugal tem vindo a desenvolver anualmente, face a uma outra ligação também tornada real e que se relaciona com a comunhão do Movimento Olímpico com a Comunidade Internacional, recentemente reorientada também para a questão dos refugiados, programa a que o COP deu o nome de “Refugiados: do drama humano ao sonho Olímpico”, tema que levou à publicação de textos sobre o assunto.

No texto divulgado no site do COP, Maria Machado, Gestora de Projecto do Comité Olímpico de Portugal, teve oportunidade de começar por escrever que “a Trégua Olímpica é hoje a expressão do desejo da Humanidade para construir um mundo melhor baseado nas regras da competição justa, da colaboração, da paz e da aceitação, fazendo a ponte da velha e sábia tradição da Ekecheiria para o objectivo prioritário das Nações Unidas: a manutenção da paz e segurança internacionais”.

Segundo a autora, “ao reconhecer ao Comité Olímpico Internacional o estatuto de observador da Assembleia Geral das Nações Unidas, a ONU enfatizou o papel do movimento desportivo internacional no envolvimento e na utilização do desporto como meio de mudança e de desenvolvimento social ao serviço da Humanidade. Defende hoje que o desporto tem de ser incluído nas medidas de recuperação para que possamos sair da crise com a credibilidade, confiança e integridade reforçadas, evitando que os problemas que existiam antes se perpetuem para lá do seu fim”.

Que prosseguiu, descreveu que “sabemos como o papel dos Estados e das organizações, a nível nacional e internacional, é crucial para garantir ao desporto as condições estruturais para materializar este propósito de desenvolvimento, sobretudo num contexto de intensificação das perturbações migratórias e de nacionalismos cada vez mais radicalizados. Também sabemos que a história do Olimpismo e do Desporto tem exemplos contraditórios deste efeito pacificador, alertando-nos para a necessidade da constante mobilização da vontade e capacidade humana para alcançarmos este desígnio”.

Adiantou, por outro lado, que “o desporto é uma linguagem universal que tem um papel crucial na valorização da dignidade humana. Através do desporto e dos seus valores, podemos unir as pessoas para além das fronteiras, fazer pontes para atenuar as diferenças sociais, culturais e económicas. O desporto pode dar um sentido à vida quando esta parece perdida. O desporto ensina-nos a incluir, a não discriminar, e mostra-nos como pode ser a participação igualitária. O desporto desafia estereótipos que nos ajudam a quebrar barreiras na sociedade e a impulsionar o progresso em questões que são fundamentais para o gozo dos direitos humanos”.

RCOP-6 de Abril - 09-04-2021ecordou que “em 2016, na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, Thomas Bach, presidente do Comité Olímpico Internacional, deixou uma mensagem de esperança para todos os refugiados do nosso mundo: “Sem uma equipa nacional a que pertencer, sem uma bandeira atrás da qual marchar, sem hino nacional a ser tocado, estes atletas refugiados serão recebidos nos Jogos Olímpicos com a bandeira e o hino olímpico. E terão uma casa na Aldeia Olímpica com os outros 11.000 atletas de 206 Comités Olímpicos Nacionais”. Cinco anos depois, com Tóquio à vista, ainda é necessário reforçar esta mensagem e 50 atletas-refugiados sonham com esta oportunidade”.

Ainda que “não temendo a inexperiência, indo além do entusiasmo do momento mediático e da comoção das imagens fortes, o Comité Olímpico de Portugal mobilizou-se e estendeu os braços (no que eles representam de acção concreta) ao acolhimento de dois promissores jovens que treinam arduamente para integrar a Equipa Olímpica de Refugiados. Com a mesma coragem e a mesma persistência que os trouxe até nós, o velocista Dorian Keletela e o pugilista Farid Walizadeh procuram manter-se em forma para atingir a qualificação que lhes permitirá concretizar o sonho olímpico”.

Revelou também que “num outro plano, discretamente e sem transformar o apoio solidário em mais um espectáculo mediático, o Comité Olímpico de Portugal tem mantido um programa que apoiou cerca de um milhar e meio de refugiados e deslocados em busca de asilo, oferecendo material desportivo para a prática de diversas modalidades e acompanhamento na integração no tecido associativo e nas comunidades locais dispersas pelo território nacional daqueles com capacidades desportivas para a vertente competitiva. Para muitos, estas experiências desportivas são o primeiro elo de coesão entre si e a comunidade de acolhimento, acentuando o papel do desporto como elemento inclusivo”.

Desenvolveu que, “na verdade, antes da sua vinda, a maioria de nós estava longe do drama dos refugiados. A sua chegada desafiou-nos para a necessidade de mobilizar vontades, abrir os braços e os sorrisos, descobrir recursos e meios que estavam à espera de ser activados… e algo mudou. Teve de mudar porque não podemos ser indiferentes ao Outro, que, afinal, poderíamos ser nós”.

Em dia de celebração do Desporto para o Desenvolvimento e a Paz, “o apelo é para não abdicar dos valores que civilizacionalmente o moldaram e que o tornam uma expressão de cultura e valor formativo. Hoje, afirmamos o Respeito (individual, colectivo e pelo Mundo), a Amizade (formando elos mais fortes para construção de um mundo melhor e mais pacífico) e a Excelência (dando o nosso melhor, no jogo e na vida)”, tendo apelado a uma “reflexão sobre o contributo do desporto para construir um mundo melhor e juntarmo-nos aos que mantêm vivos os ideais de Pierre de Coubertin e o seu legado, que se iniciou no dia 6 de Abril de 1896, data em que começaram os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna”.

Mesmo a propósito, aproveitou o COP, em parceria com a Faculdade de Desporto da Universidade do Porto e a revista Visão, lançaram a compilação de textos “Refugiados: do drama humano ao sonho Olímpico”, edição que recorda o seminário “Migrações, Desporto e Religiões”, promovido em 2019 pelas três entidades e que juntou diferentes experiências, dimensões políticas e ideologias, experiências no terreno e abordagens diversificadas.

Na edição é possível encontrar textos de Adriano Moreira, Pedro Vaz Patto, Paulo Mendes Pinto, Gonzalo Barrio, Maria Machado, Rui Tavares Guedes, Jaime Ramos, Rui Marote, Dora Estoura, Catarina Lima, Vitor Serpa, Rui Proença Garcia e ainda o testemunho do atleta refugiado Farid Walizadeh.

A versão digital completa pode ser lida no site do Comité Olímpico, onde se pode consultar também todas as publicações do COP.

 

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