Cinquenta e quatro atletas (44 olímpicos e 10 paralímpicos e surdo-olímpicos) receberam, esta terça-feira, no Museu do Oriente – a recordar que os Jogos Olímpicos de 2020 vão realizar-se a Oriente (Tóquio-Japão) – as Bolsas de Educação, que vai permitir a estes desportistas, em preparação para a próxima olimpíada, conciliar mais facilmente a actividade académica com a carreira desportiva, num apoio financeiro que ronda 130 mil euros. Pelo sétimo ano consecutivo, este programa liderado pelos Jogos Santa Casa vai “aliviar” a carga financeira a despender pelas respectivas famílias, desde que os atletas também cumpram as suas metas de educação, em especial no âmbito universitário, considerando que a totalidade – ou uma grande maioria – estão a estudar nas faculdades portuguesas, a níveis da licenciatura e mestrados.
Neste sete anos do programa, os Jogos Santa Casa já investiram um total de 770 mil euros, tendo abrangido 271 atletas portugueses (de várias modalidades), número quiçá pequeno em relação às candidaturas apresentadas (só para 2019/2020 foram recebidas 101), que beneficiaram pouco mais do que 50%, ainda assim um número acima da média, o que é de realçar face à “pequenez” deste Portugal à beira mar plantado, sendo que este processo é pioneiro, pelo que a sua solidificação completa poderá demorar mais alguns anos. Pode, até, dizer-se que que se encontra num estado embrionário, mas consolidado, havendo já uma referência a um possível aumento dos beneficiados, segundo salientou João Paulo Rebelo, Secretário de Estado da Juventude e Desporto, que salientou “ser possível prestar um apoio mais alargado relativamente ao número de beneficiados, desde que também se criem outras condições que cabem às estruturas federativas das modalidades”.
Aqui, João Paulo Rebelo “pegou” e “reforçou” nas palavras proferidas por José Manuel Constantino, presidente do Comité Olímpico de Portugal que tinha adiantado que era indispensável que “as Federações desportivas deveriam analisar o quadro competitivo anual, no âmbito nacional e internacional, de forma a encurtar o número de competições que cada atleta tem que fazer, a par de deslocações que não ajudam para a preparação nem para a competição”. E, provavelmente – dizemos nós – a pensar numa outra redução, a do valor das despesas de deslocação, que poderiam beneficiar outros programas competitivos. Situação a que José Manuel Lourenço, presidente do Comité Paralímpico de Portugal não deu “enfase” – porque foi o primeiro a falar – mas salientou que “vocês – os atletas – são a essência do desporto, pelo que deve haver vontade para estudar e fazer a preparação devida, pelo que o apoio dos Jogos Santa Casa é significativo”, terminando com a frase de um autor estrangeiro (já falecido) que referiu a dada altura da sua vida, que “se quer provar que as pessoas não são limitadas enquanto não sejam deficientes de espirito”.
João Paulo Rebelo deu como exemplos as atletas olímpicas Francisca Laia (canoagem) e Filipa Martins (ginástica), também integradas neste projecto das Bolsas de Educação dos Jogos Santa Casa, de apoio às carreiras duais, que incentiva os nossos atletas a conciliarem a carreira académica com a desportiva, de modo a evitar o abandono prematuro do desporto de alto rendimento e o abandono precoce dos estudos. A “assinatura” da campanha para 2020 assenta (que nem uma luva) no “Vamos passar a chama aos campeões do Futuro”, num valor total de cerca de 130 mil euros. Este ano – e tendo em conta os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020 e a (ainda) maior exigência de preparação dos atletas para esta prova, e que leva a que alguns optem por um regime de estudo parcial – foram criados dois tipos de bolsa: uma de 3 mil euros, para quem mantém os estudos a tempo inteiro e, outra, de 1.500 euros, para quem opta pelo regime de estudo parcial.
Das bolsas atribuídas este ano faz, ainda, parte uma novidade: a Bolsa de Educação Solidária. Esta foi atribuída ao atleta de Boxe Farid Walizadeh (nacionalidade afegã), que integra a equipa de refugiados em preparação para os Jogos Olímpicos Tóquio 2020, no âmbito do Programa de Apoio a Refugiados do Comité Olímpico Internacional, do qual o Comité Olímpico de Portugal faz parte. Ana Catarina Monteiro, por exemplo, atleta de natação já com marca de qualificação para os Jogos Olímpicos Tóquio 2020 e aluna de mestrado em Bioengenharia, explicou que “a bolsa dos Jogos Santa Casa é um apoio que facilita a conciliação dos estudos, com a prática desportiva. Este ano, em particular depois de uma situação de prescrição na universidade, e com o apuramento para os Jogos Olímpicos, a inscrição na faculdade foi feita num regime diferente do habitual e a manutenção da Bolsa foi, sem dúvida, um importante voto de confiança, que me dá uma força extra!” Filipe Marques, atleta de triatlo – da dimensão paralímpica – e aluno a tempo inteiro do 1º ano de Ciências em Desporto, referiu que estas bolsas “são um grande apoio, que me motiva a ter bons resultados, tanto a nível académico, como a nível desportivo. Este é o segundo ano em que sou apoiado pelos Jogos Santa Casa e continua a ser uma grande ajuda para conseguir tirar um curso, que vai ser importante quando acabar a minha carreira desportiva.”
A fechar o encontro olímpico e paralímpico, João Pedro Correia, Vice-presidente da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa que “com 520 anos de actividade, a Santa Casa da Misericórdia, só em 1961 se estreou na ligação ao desporto, quando foi criado o Totobola, com o objectivo de apoiar causas eminentemente sociais”, tendo percorrido um trilho que, ainda que com obstáculos, tem sido cumprido. Acrescentou ainda que “o desporto é um desígnio da Santa Casa da Misericórdia, através dos Jogos Santa Casa, tendo sido aumentada a presença noutros âmbitos, face à evolução dos próprios jogos que vieram a ser aprovados, com vista a permitir outros apoios que reforçassem a coesão social, apanágio das lides desportivas, o que vamos continuar a ter em conta”.
Os atletas do projecto olímpico Tóquio’2020 e do projecto de esperanças olímpicas beneficiados com as Bolsas de Educação Jogos Santa Casa foram os seguintes:
Nuno Martins Da Silva Brito (Andebol); Alexandre Vieira Figueiredo, Catarina Guerreiro, Cláudia Ferreira, Francisco Belo, Joana Pontes, João Peixoto, Manuela Martins, Maria Bernardo, Mariana Machado, Rúben Francisco Antunes e Susana Costa (Atletismo); Bernardo Atilano (Badminton); Bruno Afonso, Francisca Laia – Joana Vasconcelos e Marco Apura (Canoagem); Filipa Martins, Catarina Nunes, Rúben de Brito Tavares e Sofia Correia (Ginástica); Catarina Martins Costa, Manuel Rodrigues e Patrícia Sampaio (Judo); Diogo Moreira e Tânia Barros (Karaté); Ana Catarina Monteiro, Angélica André, Gabriel Lopes, Rafael Simões e Rita Antas de Barros Frischknecht (Natação; Afonso Costa e Dinis Costa (Remo); Joana Cunha e Júlio Ferreira (Taekwondo); Maria Inês Barros (Tiro com Armas de Caça); Afonso Pinhal do Canto, Gabriela Ribeiro, Helena Carvalho, Maria Rodrigues Tomé, Vasco Vilaça e Vera Vilaça (Triatlo); Carolina Maria Alves da Silva João (Vela).
Alexandre Almeida (Goalball), Carina Paim (Atletismo), Daniel Videira (Natação), Hugo Costa (Canoagem), Miguel Cruz (Natação), Miguel Monteiro (Atletismo), Tiago Neves (Natação), Rúben Gonçalves (Judo), Filipe Marques (Triatlo) e Telmo Pinão (Ciclismo) foram os atletas das dimensões paralímpica e surdolímpica que viram premiado o esforço de conciliarem a carreira desportiva com a académica.