Desde a primeira pedalada que se percebeu que Jóni Brandão não tinha “pernas” para um indomável João Rodrigues, que mostrou sempre maior concentração, um pedalar mais certo, com poucas oscilações de velocidade, e que a meio dos 19,5 km lá levava vantagem para chegar à frente, face a ter o mesmo tempo que o ainda camisola amarela da EFAPEL.
Rodrigues foi somando vontade à vontade e, com o à vontade suficiente, mal ultrapassou a linha de meta foi logo festejado pelos colegas do grupo, porquanto o triunfo não fugiria de forma nenhuma. Como aconteceu.
Jóni Brandão bem tentou fazer “das tripas coração” mas não controlou o cronómetro – nem o próprio corpo e mente – para que pudesse dar mais luta pelo título que fugiu como que por entre as mãos (e as pernas).
Como se referiu a meio do contra-relógio, a caminho da Avenida dos Aliados, já se percebia que João Rodrigues estava a ganhar tempo a Joni Brandão. Tiquetaque, tiquetaque, o cronómetro marcava a emoção do grande final da 81ª Volta a Portugal Santander.
Os dois protagonistas, depois de mais de 1500 quilómetros de competição, entraram na última etapa empatados e só o percurso entre Vila Nova de Gaia e o Porto decidiria o vencedor da Volta 2019.
Nos Aliados a festa estava montada. O espumante guardado para explodir com quem subisse ao pódio e os corações palpitavam. Quem seria o primeiro? Os ponteiros incessantes, ritmados, continuavam a cravar os segundos e a história desta Volta estava a finar-se.
Indiferentes ao “bruaá” do público, João Rodrigues voava e Joni Brandão, o último a partir, corria atrás do prejuízo. Um rio de gente agitava-se e os paralelos da calçada tremiam à passagem dos homens que discutiam a prova. O tal rio – nos 19,5 quilómetros da última etapa – desaguou num autêntico mar de emoções no centro histórico do Porto, a lembrar outros tempos e outras Voltas, mas com a certeza de que no futuro serão estas imagens a fazer memória. Nunca nos últimos anos a Volta foi tão emocionante e tão…portuguesa!
Na linha de meta, o relógio marcou 27.31. para o jovem algarvio, João Rodrigues, que um dia pensou ser futebolista, mas por obra e graça do destino veio parar ao ciclismo.
No fim ficou provado que voou. Fez a média de 42,5 Km/hora num trajecto difícil e técnico.
Joni Brandão, o melhor que conseguiu foi o terceiro tempo com atraso de 27 segundos. Estava finalmente decidida a Volta.
Mal o cronómetro parou, António Carvalho, segundo classificado nos Aliados, lançou Rodrigues às cavalitas e elevou-lhe o sonho a caminho do pódio, perante uma onda azul eufórica a agitar bandeiras e a gritar “Poooortoooo!!!”
A W52-FC Porto recuperava também a liderança por equipas ao colocar quatro homens nas cinco primeiras posições da classificação eeral. Só a Efapel, com Brandão, conseguiu intrometer-se na hegemonia do colectivo liderado por Nuno Ribeiro, director desportivo que há sete Voltas consecutivas vê os seus homens vencer a “Portuguesa”.
Há vários anos que a Volta não tinha um vencedor tão jovem e uma outra curiosidade: pela primeira vez desde que a Volta a Portugal faz parte do calendário internacional (1991), os vencedores de todas as classificações são portugueses. Para além da amarela Santander de João Rodrigues, que acumulou também com a conquista do Prémio Combinado Kia, a camisola verde/Rubis Gás, vencedor da classificação por pontos, foi de Daniel Mestre (W52-FC Porto), a camisola azul/Liberty Seguros, vencedor do Prémio da Montanha, foi entregue a Luís Gomes (Radio Popular-Boavista) e por fim a Camisola Branca/Jogos Santa Casa, vencedor da Juventude, foi de Emanuel Duarte (LA Alumínios-LA Sports).
Na festa da festa, espera-se já pela edição 82ª que no verão de 2020 voltará a animar parte deste país.
Resultados da última etapa, este domingo:
1.João Rodrigues (W52/Porto), 27.31; 2. António Carvalho (W52/Porto), a 14 seg.; 3. Jóni Brandão (EFAPEL), a 27 seg.; 4. Gustavo Veloso (W52/Porto), a 28 seg.; 5. Thibault Guernalec (Arkea Samsic), a 58 seg.; 6. Gian Friesecke (Swiss Academy), a 1.03; 7. Samuel Caldeira (W52/Porto), a 1.14; 8. Mikel Aristi Gardoki (Euskadi Murias), a 1.20; 9. Edgar Pinto (W52/Porto), a 1.21; 10. Ricardo Mestre (W52/Porto), a 1.23.
Geral Individual (Camisola Santander):
1.João Rodrigues (W52/Porto), 40.57.04; 2. Jóni Brandão (EFAPEL), a 27 seg.; 3. Gustavo Veloso (W52/Porto), a 1.08; 4. António Carvalho (W52/Porto), a 2.32; 5. Edgar Pinto (W52/Porto), a 3.14; 6. João Benta (Radio Popular/Boavista), a 3.15; 7. David Rodrigues (Radio Popular/Boavista), a 4.44; 8. Montoya Giraldo (Medellin/Colômbia), a 5.24; 9. Daniel Silva (Radio Popular/Boavista), a 5.33; 10. Henrique Casimiro (EFAPEL), a 5.43.
Completaram a prova 103 ciclistas.
Geral por equipas: 1. W52/Porto, 122.53.31; 2. Rádio Popular/Boavista, a 2.26; 3. Sporting/Tavira, a 11.11; 4. EFAPEL, a 23.13; 5. Miranda/Mortágua, a 57.28.
Geral por pontos (Camisola Rubis Gás): 1. Daniel Mestre (W52/Porto), 91; 2. August Jensen (Israel Academy), 52; 3. Mikel Gardoki (Euskadi-Murias), 50; 4. Gustavo Veloso (W52/Porto), 49; 5. Hector Saez (Euskadi Murias), 47.
Geral Montanha (Camisola Liberty Seguros): 1. Luís Gomes (Radio Popular/Boavista), 107; 2. Hugo Sancho (Miranda/Mortágua), 47; 3. João Rodrigues (W52/Porto), 45; 4. Ricardo Mestre (W52/Porto), 38; 5. David Ribeiro (LA Alumínios), 36.
Geral Combinado (Camisola KIA): 1. João Rodrigues (W52/Porto), 12; 2. Jóni Brandão (EFAPEL), 19; 3. Gustavo Veloso (W52/Porto), 22; 4. António Carvalho (W52/Porto), 27; 5. João Benta (Radio Popular/Boavista), 42.
Geral Juventude (Camisola Jogos Santa Casa): 1. Emanuel Duarte (LA Aluminios), 41.12.01; 2. Berrade Fernandez (Euskadi Murias), 41.12.03; 3. Rafael Lourenço (Oliveirense/InoutBuild), 41.45.08; 4. Pedro Lopes (Oliveirense/InoutBuild), 42.06.16; 5. Gonçalo Leaça (LA Aluminios-LA Sport), 42.08.15.
Fechado o pano sobre a 81ª Volta a Portugal Santander, a Volta a Portugal do Futuro regressa em Setembro próximo, destinada ao escalão etário de sub23, na 27ª edição e denominada Liberty Seguros.
Entre os dias 5 e 8 de Setembro, serão discutidas cinco etapas, a primeira em formato de circuito na Sertã e a segunda com partida e chegada em Abrantes. No sábado, a manhã será passada entre Abrantes e Castelo de Vide e, à tarde, haverá contra-relógio individual na mesma vila alentejana. Para o último dia de competição está reservada uma etapa de Montanha com epicentro em Portalegre e passagem nos desafiantes topos da Serra de São Mamede e do Cabeço do Mouro.