Sábado 24 de Novembro de 1917

Violência e discriminação no desporto debatidas na FMH

FMH-Violência-12-18De forma exponencial, em especial na última década, o Desporto (e ou actividades desportivas) tem sido uma excelente “bolha” na (re)promoção da imagem de um ”pequeno” Portugal que se faz “grande”, sendo de salientar o título europeu de futebol conquistado em França (2016).

E quando se refere a “(re)promoção” é porque os tempos áureos dos nossos únicos quatro campeões olímpicos passaram sem que fossem aproveitados os respectivos e consequentes louros. Foram muitas palmas que se ouviram, de loas e condecorações – justificadas – mas, noutros campos, não se pensou em prevenir factores que então também começavam a grassar um pouco por todo o mundo.

Referimos a violência associada ao desporto (vulgo Futebol), com as derivações, posteriormente e paulatinamente, que se seguiram: discriminação, racismo, inclusão, igualdade de género, assédio, xenofobia, bullying, entre outras.

E foi sobre alguns destes temas que a Faculdade de Motricidade Humana se debruçou no Seminário contra a Violência e Discriminação no Desporto, uma iniciativa do projecto Desporto sem Bullying, apoiada pela Secretaria de Estado da Cidadania e Igualdade, no âmbito da Campanha contra a Violência e Discriminação no Desporto e em cooperação com o IPDJ.

Para Miguel Nery – responsável sobre o Projecto Desporto sem Bullying na FMH – “a prática desportiva é considerada por muitos como promotora do desenvolvimento físico e emocional dos jovens atletas”, pelo que é líquido, adiantou, que “é fácil entender o motivo pelo qual pais, professores, médicos, psicólogos e outros profissionais que trabalham com jovens recomendem, frequentemente, o envolvimento destes em actividades desportivas”.

Nery salientou também que “o desporto pode, de facto, desempenhar um papel importante no desenvolvimento de diversos domínios da vida dos jovens, como a aprendizagem de competências sociais, a promoção da cooperação ou a pertença a um grupo de pares”, frisando que “uma relação directa entre prática desportiva e um efeito positivo no desenvolvimento dos jovens não pode ser aceite sem condicionalismos, apesar do desporto poder ter um efeito benéfico nesse sentido, porquanto o resultado da sua prática também pode ser nefasto, dependendo da qualidade da experiência desportiva”.

Em consequência do referido, Nery adiantou que “o desporto não é positivo nem negativo por si só”, frisando que “um factor que contribui fortemente para uma má experiência consiste em variadas formas de violência, discriminação e exercício coercivo do poder no desporto, fenómenos que devem ser estudados e analisados em profundidade, permitindo delinear estratégias de prevenção e intervenção eficazes, sendo que o lado negro do desporto não deve ser ignorado, especialmente por queles que nele trabalham, o promovem e adoram”.

Salientou de seguida que “o Estado e as diversas entidades desportivas (federações, associações, clubes) têm obrigação de fazer face ao problema, intervindo no sentido da diminuição da prevalência destes comportamentos, sendo indispensável unir esforços e desenvolver políticas sólidas, a longo prazo, baseadas numa compreensão profunda do fenómeno, que permita obter resultados consistentes”.

Finalizando, Miguel Nery reforçou que “teoria e prática estão fortemente ligadas e influenciam-se mutuamente, sendo necessária uma articulação forte e concertada entre os investigadores e os profissionais que trabalham todos os dias no terreno, com o intuito de prevenir e intervir face a este tipo de comportamentos”.

Diversos profissionais, especialistas, investigadores (nacionais e internacional) e figuras do desporto nacional apresentaram reflexões sobre os temas em debate – em estilo de entrevista ou dissertando – como o “bullying na população jovem”, “comportamentos agressivos na alta competição – o papel do psicólogo do desporto”, “violência na adolescência – uma aproximação psicanalítica”, “desporto de formação – enfoque desenvolvimentista”, “o adepto violento”, “a violência contra os árbitros”, “o assédio e o abuso sexual no desporto” e o “bullying no desporto”.

Projecto onde o Prof. Carlos Neto (também da FMH e que tem lutado muito nos últimos tempos pelo bem estar das crianças, de uma forma específica) tem tido um papel preponderante desde há muitos anos, quando se iniciou o estudo internacional sobre o tema do “bullying no desporto” que, segundo o emérito psicólogo Peter Smith, da Escola e Estudos da Família (Universidade de Londres), “tem decrescido, desde 1990, o número de casos relacionados com este tipo de comportamento”.

A Secretária de Estado da Cidadania e Igualdade, Rosa Monteiro, via vídeo gravado (justificando a ausência por motivos de agenda), teve oportunidade de salientar “a importância dos temas em debate e a atenção que o governo dá ao assunto, porquanto têm presente que vários eixos de discriminação, quando se cruzam, tornam maior o conflito sendo, por isso, uma área primordial a combater no que se refere à questão do género”.

Frisou ainda que “a formação de treinadores é um importante factor para a educação para a cidadania, sendo necessário contributos de todos os agentes envolvidos na formação dos jovens”.

Mais um passo foi dado para a sensibilização sobre os temas em apreço mas o que se torna imperioso é implementar acções no terreno, nos próprios locais onde decorrem as actividades (escolas, clubes, agremiações de índole local) em função dos temas a tratar, ainda que convergentes, também podem ser debatidos em separado e de forma sequencial.

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