O Presidente da República, uma vez mais – situação que se aplicou também aos anteriores presidentes – cumpriu a “norma” de estar presente na cerimónia da entrega dos Prémios Gazeta de Jornalismo (relativos ao ano de 2017), os mais prestigiados do jornalismo português.
O Clube de Jornalistas, instituição promotora deste evento desde o início, liderado por Mário Zambujal, jornalista e escritor de elevado mérito, conseguiu manter a “chama viva” nesta distinção de jornalistas lusos, apesar das dificuldades com que se tem debatido ao longo de vários anos, contando desta vez com o apoio do Santander Totta e da Galp Energia.
Como os últimos são os primeiros, Marcelo Rebelo de Sousa encerrou a sessão, primeiro passando em revista a sua passagem, como jornalista e comentador, por várias publicações nacionais, incluindo rádio e tv – tendo pensado adquirir a carteira profissional mas que não o fez porque era incompatível (por uma ou outra razão) com as funções que foi desempenhando – seguindo-se o realce à iniciativa tida pelo Clube de Jornalistas, assinalável a todos os níveis, concluindo por louvar os jornalistas premiados, numa altura em que “o jornalismo, tal qual deve ser, está em situação de emergência democrática e que tende agravar-se face à crise que se verifica neste âmbito”.
Ainda assim, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que “estou optimista apesar da realidade actual”, mostrando-se feliz “pelos mais jovens que foram distinguidos”, deixando uma nota final de que é “preciso resistir, porque só resistindo é que podem vencer”, louvando a resiliência de muitos face às enormes dificuldades, a vários níveis (precaridade, falta de meios, estagiários de forma gratuita, entre outras negatividades), porque passam os jornalistas, primordialmente os mais jovens.
Quase todos os premiados tiveram oportunidade de salientar as condições deficitárias com que se debatem todos os dias, conseguindo cumprir a sua missão com um misto de sentimentos de que “deram tudo para fazerem o melhor”.
Os premiados foram os que a seguir se referem, indicando-se os trabalhos produzidos:
Prémio Gazeta de Mérito – Luís Filipe Costa, jornalista, radialista e realizador de televisão, nascido em 1936, a quem se deve uma verdadeira revolução no panorama radiofónico quando, na década de 1960, chefiou a redacção do extinto Rádio Clube Português. O premiado, um dos profissionais de rádio que deu voz a comunicados do MFA, a 25 de Abril de 1974, viria a consolidar a carreira na RTP.
Gazeta de Fotografia – Adriano Miranda (Público), pela fotografia publicada na primeira página do Público de 16 de Outubro de 2017. Símbolo da tragédia dos incêndios, que por isso ajudou à onda de solidariedade nacional para com as vítimas, a imagem de Manuel Francisco, foi captada em Covelo, concelho de Tábua, precisamente no dia em que festejava 82 anos.
Gazeta de Imprensa – Joana Gorjão Henriques (Público) viu distinguida a primeira de uma série de seis reportagens, sob o título genérico “Racismo à portuguesa”, dedicada à Justiça. O trabalho, publicado entre agosto e Outubro de 2017, implicou a realização de entrevistas a cerca de 50 pessoas, entre procuradores, advogados, professores, activistas, investigadores e artistas.
Gazeta de Multimédia – atribuído a João Santos Duarte e Tiago Miranda (Expresso) pelo trabalho “Estamos aqui para formar animais de combate”, reportagem sobre os “comandos”, divulgada um ano após a morte de dois jovens militares, na chamada “prova zero”. Longa viagem ao interior do curso 127, demorou oito meses a concretizar.
Gazeta de Rádio – Cláudia Arsénio (TSF) foi reconhecida pela reportagem “Tão longe, tão perto”, com sonoplastia de Miguel Silva, emitida em 23 de Novembro de 2017. Meio século após as cheias que assolaram a região de Lisboa, cruza testemunhos de sobreviventes com depoimentos de antigos bombeiros, estudantes e jornalistas que acompanharam uma tragédia de mais de 700 mortes e cuja dimensão a ditadura tentou abafar através da Censura.
Gazeta de Televisão – Pedro Coelho (SIC) venceu, com “Assalto ao castelo”, série de três reportagens emitidas pela SIC entre 1 e 3 de Março de 2017, que escrutina a actuação do Banco de Portugal no caso da queda do BES. O trabalho, em que se envolveram também os repórteres de imagem José Silva e Luís Pinto e o editor de imagem Rui Berton, apresenta documentos inéditos que colocam em causa o papel do BP no maior escândalo financeiro da democracia portuguesa.
Gazeta Revelação – Margarida David Cardoso (Público) ganhou o prémio pela reportagem
“A noite do fim do mundo”, sobre as cheias de 1967, publicada na revista P2. O trabalho associa o registo histórico ao depoimento de sobreviventes, sendo a componente fotográfica actual da autoria do fotojornalista Rui Gaudêncio. Os artigos foram divulgados na edição impressa e online a 12 de Novembro de 2017.
Gazeta de Imprensa Regional – O júri distinguiu o “Correio da Feira”, semanário regionalista de Santa Maria da Feira, que no ano passado comemorou o 120.º aniversário. Propriedade da empresa Efeito Mensagem, Lda., o jornal é dirigido por Orlando Macedo. Preza a pluralidade da abordagem noticiosa, sem abdicar da defesa e promoção dos valores regionais.
O Júri dos Prémios Gazeta 2017 foi composto por Eugénio Alves (Clube Jornalistas), Cesário
Borga (CJ), Eva Henningsen (Associação de Imprensa Estrangeira em Portugal), Fernanda
Bizarro (Freelancer), Fernando Correia (jornalista e professor universitário), Elizabete
Caramelo (professora universitária), Fernando Cascais (professor universitário e formador do
CENJOR), Jorge Leitão Ramos (crítico de cinema e televisão), José Rebelo (professor jubilado do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa) e Paulo Martins (jornalista e professor universitário).