Promover as boas práticas formativas em todas as áreas, sem dúvida que é um papel que cabe a qualquer instituição que se dedica – ou tem como função especifica – a formação dos futuros professores que se dedicarão, de alma e coração, a ajudar os pais no caminho a percorrer para que Portugal, para o caso, tenha jovens cuja evolução possa ser acompanhada em todos os patamares, ao mesmo tempo que – com a evolução como seres humanos – se dedique, complementarmente, à pratica da actividade física e do desporto.
Foi com esse sentido que a Faculdade de Motricidade Humana (FMH), em cooperação com a Escola de Judo Nuno Delgado, levou a efeito um debate sobre um conjunto de matérias de índole científica, abrangente a várias modalidades desportivas e outras áreas que, paralelamente, contribuem de forma essencial, para o conhecimento do corpo humano, análise das suas capacidades globais, forma de trabalhar os objectivos que se pretendem, num entrelaçado cruzado de temas que, embora parecendo – mesmo para os mais leigos – que nada tem a ver uns com os outros. Muito pelo contrário: estabelecem-se “teias” em que tudo respeita a tudo.
Mário Costa abordou a preparação desportiva das várias etapas do desenvolvimento desportivo na Natação, salientando a evolução sob o ponto de vista das idades, não deixou dúvidas sobre quantos jovens, neste percurso, chegam e se mantém na categoria máxima (seniores) ao afirmar que a taxa é muito baixa, questionando-se: porquê?
Questões de ordem financeira, conflitos de trabalho e de treino (horários), pressão da família, pressão do tempo, incapacidade de melhorar os objectivos escolares e desportivos, são algumas das justificações para o insucesso, onde também surgem (a partir dos 16/17 anos) outros aspectos como a opção por uma modalidade, as lesões, a inexistência de um plano de carreira ou modelo de preparação desportiva a longo prazo, o planeamento e o crescimento.
E questionou ainda: em Portugal, quantos o fazem?
Referiu que é preciso definir um plano que comtemple todas estas variantes e, acima de tudo, que o estudante/desportista cumpra a sua missão, independentemente da sua maturação biológica diferenciada. Para o efeito torna-se indispensável haver uma terminologia comum de ordem técnico, dentro do que foi assinalado no que respeita ao processo de treino para todos os escalões etários, reforçando que o conhecimento, a capacidade e a vontade são factores predominantes para o êxito.
A laia de exemplo mais prático, Mário Costa salientou que, para a obtenção de melhores performances, um jovem com 14 a 17 anos deve dormir 8/10 horas por dia e que, entre os 18 e os 25 – o volume de horas de sono pode baixar para as 7/9 horas.
Com este mote, as dúvidas começaram a “assaltar” o espirito da plateia – pese embora recheada de técnicos conhecedores do assunto – porquanto, mentalmente, se “prospectou” como é possível aumentar os resultados de top se, pela base, há muito por fazer.
Francisco Silva, por seu lado, apresentou a caracterização da intervenção dos treinadores na preparação dos atletas, focando factores determinantes como: organização por etapas, multidimensionalidade do treino, idade e maturação, janelas de treino, desenvolvimento das habilidades motoras, articulação significativa de conteúdos e melhoria contínua (kaizen da tradição japonesa).
Enquanto isso, o catedrático Manuel João Coelho da Silva abordou na sua exposição “o ambiente de treino e os objectivos para uma carreira de médio e longo prazo”, tendo tido oportunidade de descrever a necessidade da realização de estudos transversais, prospectivos, longitudinais e retrospectivos.
Entre outros detalhes, salientou que 14% dos trinadores portugueses não ganham mais do que o ordenado mínimo – numa “alusão” ao facto de que, a este nível, como se podem preparar os atletas para uma carreira longa e de sucesso? Frisou que, além dos conhecimentos técnicos – quer do núcleo comum quer do especial de cada modalidade ou disciplina – os treinadores necessitam de ter conhecimentos das áreas da medicina multidisciplinar.
A “talhe de foice”, deixou no ar se “uma transfusão de sangue não é doping”?
Não referiu mas recordamos o que se verificou quando o finlandês Lasse Viren venceu Carlos Lopes sem se saber como – fez uma última volta dos 10.000 metros num ritmo galopante que passou que nem uma seta pelo campeão olímpico português na recta final, vindo a descobrir-se mais tarde que Viren estaria dopado, que o próprio justificou com uma “alimentação à base de leite de rena” mas que essa “alimentação” terá saído precisamente de uma “transfusão”, o que nunca foi provado porque o sistema da luta contra a dopagem, nessa altura, era muito insipiente.
Neste campo, outra situação parecida, que andou nas “bocas do mundo” na mesma altura, face a estudos nesse sentido realizados, que a gravidez nas mulheres também podia sugerir um outro tipo de dopagem (sanguíneo) face, segundo os estudos da altura, afirmarem categoricamente que a mulher beneficiava desse facto.
Também foi notícia o facto de, depois de engravidarem, uma ou outra atleta abortava e, dessa forma, com a regeneração do próprio sangue, teria vantagem. Mais tarde, concluiu-se que, afinal, os efeitos foram considerados como “padrões” normais e ninguém terá sancionado por isso.
Este tema da dopagem levou Manuel Coelho da Silva, a saudar o excelente trabalho desenvolvido por Luís Horta que, enquanto responsável pelo Conselho Nacional Antidopagem, divulgou estudos científicos e levou o Laboratório português a ser acreditado pelo Comité Olímpico Internacional e, posteriormente, pela Agência Mundial Antidopagem, tendo sido considerado como um dos melhores no mundo.
De uma forma idêntica, ainda que com as respectivas especificidades, foram abordadas outras “nuances”, como “as etapas de formação do jogador de futsal” onde o seleccionador nacional da modalidade, Jorge Braz, deu a conhecer outros pormenores, o mesmo sucedendo a Pedro Sequeira (Presidente da Confederação dos Treinadores de Portugal), para o caso a moderar uma mesa redonda sobre os “obstáculos e novas tendências dos modelos de preparação a longo prazo”, onde estiveram oradores como Jorge Braz (Futsal), Daniel Marinho (Universidade da Beira Interior e a falar sobre Natação), enquanto Bruno Avelar também se referiu à modalidade de Judo.
A “identificação e desenvolvimento de talentos em jogos desportivos; etapas da selecção desportiva”, esteve a cargo de Anna Volossovitsh (FMH), terminando a Conferência com outra Mesa Redonda, onde foi abordada a questão “ da formação ao alto rendimento – experiências pessoais em Portugal”, tema que foi moderado por Pedro Mil Homens (Director da Caixa Futebol Campus do Sport Lisboa e Benfica) e onde intervieram Tomaz Morais (Treinador que foi seleccionador nacional de rugby); José́ Uva (Treinador de Atletismo); Leonel Pontes (Treinador de Futebol) e Nuno Delgado (Medalhado Olímpico e foi chefe da equipa técnica de Judo).
José Alvez Diniz, o ainda presidente da FMH – mas em fase transitória porquanto tinha sido eleito um novo presidente há poucos dias – começou precisamente por confirmar esta informação e dar conhecimento do novo responsável, Luís Bettencourt Sardinha (também presente) – ambos na foto que se publica – teve oportunidade de dizer que “foi um prazer e honra ter sido presidente desta faculdade e saio muito mais enriquecido de conhecimentos e trabalho desenvolvido com todos os colegas e colaboradores”.
Nuno Delgado, como parceiro do evento, salientou “a importância do investimento na formação, pelo que considero esta acção de muito positiva para o futuro de Portugal”, tendo agradecido a amabilidade do convite para ser parceiro, terminando ao afirmar que “a Escola de Judo Nuno Delgado estará sempre disponível para contribuir para uma melhor formação de técnicos com o objectivo de aumentar a qualidade do desporto em Portugal”.
O novo presidente aproveitou para dizer que “a formação de treinadores é indispensável e obrigatória para que a sociedade em geral e os jovens em particular possam singrar com base nos ensinamentos de melhores e mais capacitados treinadores com vista a haver mais desportistas de rendimento”.
No fundo, a FMH cumpriu mais um objectivo do seu plano de trabalhos, com a realização desta conferência, na sequência do trabalho que tem vindo a desenvolver ao longo de muitos anos, na que foi a primeira faculdade de desporto em Portugal.