Com cinquenta e um anos ao serviço do jornalismo português – a quem se deve a entrada dos jornalistas lusos nos grandes eventos internacionais ao filiar-se na Associação Internacional da Imprensa Desportiva (AIPS) – o CNID-Associação dos Jornalistas de Desporto acaba de ser apagado das normas directivas que a Liga Portugal (LP) aprovou em Assembleia Geral realizada em 12 do corrente mês de Junho (há pouco mais de quinze dias), segundo informação recolhida no site da LP.
Reconhecido pelo Governo com a Medalha de Bons Serviços, Membro Extraordinário do Comité Olímpico e Paralímpico de Portugal, Distinguido pela Confederação do Desporto de Portugal, o CNID.
Não se encontrando – à hora em que estamos a escrever estas linhas – “aberto” o acesso ao pdf do novo Regulamento de Competições, socorremo-nos do que se encontrava em vigor na época anterior (2016/2017), transcrevendo o artigo correspondente ao Artigo 64º – Comunicação Social, onde se expressa no seu número 1., que “a carteira profissional de jornalista e os cartões do CNID e da Association Internationale de la Presse Sportive (AIPS), devidamente actualizados, são os únicos documentos de identificação exigíveis aos jornalistas profissionais e colaboradores da imprensa, para serem devidamente acreditados, com acesso às salas de imprensa, bancada de imprensa e outros locais que lhes seja permitido aceder nos termos deste Regulamento”.
Segundo o texto aprovado e que já esteve inserido na página da LP, o mesmo número 1. (mantendo-se também o Artigo 64º) refere que “a carteira profissional de jornalista e o cartão da Association Internationale de la Presse Sportive (AIPS)”, seguindo-se o restante texto.
Para além da gravidade, a todos os níveis e vertentes, desta decisão, a situação torna-as mais gravosa pelo facto de ter sido aprovada pelos clubes que se fizeram representar na referida assembleia, não se conhecendo a paternalidade desta proposta.
Ou talvez se saiba se se ler a nota de imprensa que o CNID divulgou a meio da tarde de hoje, e que se transcreve na íntegra:
“Ontem, na sessão ordinária do Conselho Nacional do Desporto, o presidente do CNID – Associação dos Jornalistas do Desporto, António Florêncio, informou os membros daquele órgão consultivo do Governo do arrastar da situação que opõe a associação dos jornalistas desportivos à Liga Portuguesa de Futebol Profissional (Liga Portugal, na designação actual) que começou por proibir a utilização dos coletes do CNID nos encontros por si utilizados e obrigando ao uso de outros com publicidade inserida, em choque com o que determina a lei portuguesa e, nomeadamente, o Código Deontológico dos Jornalistas. Há poucos dias, voltou à carga declarando unilateralmente a não aceitação do cartão do CNID para efeitos de concessão de acreditações para as suas competições, fazendo aprovar na sua Assembleia geral estas “novas” deliberações.
Sónia Carneiro, directora executiva da Liga, justificou a decisão na referida sessão do Conselho Nacional do Desporto, declarando, por um lado, que os fotojornalistas não revelaram preocupação por ostentar a referida publicidade – o que se estranha porque os referidos profissionais se manifestaram abertamente contra tal decisão – acrescentando que, no caso da não-aceitação do cartão do CNID, foi o Sindicato dos Jornalistas que informou a Liga que apenas aceitaria as matérias consagradas nos seus regulamentos e respeitantes à Comunicação Social se o CNID não fosse reconhecido como uma das entidades com competência para assegurar a emissão, pela Liga, de acreditações para os seus associados. Inacreditavelmente, depois de ter proclamado e ameaçado, os seus associados, da retirada das suas carteiras profissionais se usassem coletes com publicidade inserida!
António Florêncio tinha, há cerca de duas semanas, por razões de saúde, decidido cessar as suas funções na Associação dos Jornalistas de Desporto ao fim de doze anos e por força da sua idade avançada. Mas, em face desta nova situação provocatória e inesperada, diz que continuará em funções até à desejada reposição da legalidade.
O CNID pede aos jornalistas desportivos em geral “que apoiem esta luta que se tem revelado desigual e movida por forças conhecidas que disfarçam mal as suas incapacidades e limitações, para não se falar de desconhecimento das regras em vigor”.
Fora deste contexto, digamos jurídico-regulamentar, como é que é possível que a Liga Portugal – dentro do quadro da realização de uma Pós-Gradução em “Organização e Gestão no Futebol Profissional” – promova um debate sobre “Relações dos Media com o Futebol”, com a presença dos directores dos três jornais diários desportivos?
Por um lado, despreza-os (via CNID) por regulamento; por outro, convida-os para fazerem palestras.
Assim vai a “relação dos media com o futebol”.
De bradar aos céus!