Europeu’2016 – Portugal, 2 – País de Gales, 0
Começando pelo fim, a única coisa real é que Portugal ganhou, soube marcar na altura própria, venceu os quilómetros que ainda faltavam para chegar a Paris e à final deste Euro’2016, doze anos depois da final no Euro’2004, que perdemos ingloriamente ao “escorregarmos” nos iogurtes gregos.
Pelo final, ficou também estampado que o ter mais posse de bola (54% para os galeses) não corresponde a nada (a não ser reter a bola e jogar para o empate), com Portugal a superiorizar-se em mais remates à baliza (17-9), em mais remates certeiros (6, dois dos quais foram os golos, contra três dos homens de Bale) e nos golos também demos “chita” (foram a zero).
Pelo meio ficaram muitos “estilhaços” – começando por uma grande penalidade (10’) sobre Ronaldo que não foi assinalada – como uma primeira parte quase inócua por parte de Portugal (que incomodou muitos milhões) e em que a defesa criou alguns “calafrios” ao deixar quase sempre Bale à solta, que não deu maior “prejuízo” porque era o “dono” da bola.
No segundo tempo, as ideias refrescaram-se logo a partir do 50º minuto, quando o Senhor Ronaldo (até aí muito vigiado e também com mediana vontade anímica) foi ao “céu” dar uma cabeçada daquelas que quase provocam “tremores de terra” pela velocidade que a bola leva e que não dá (deu uma vez mais) qualquer “abébia” até ao melhor guarda-redes do mundo, seja onde e quem for.
Com este golo, Ronaldo igualou o francês Michel Platini na lista dos melhores marcadores em fases finais do europeu (desempate marcado para a final, com toda a certeza), passando a ser ainda o melhor marcador em jogos das meias-finais, além de aumentar a vantagem de ser o mais presente na equipa de Portugal em competições internacionais, bem como passar a ter 61 golos no comando da formação lusa.
Uma noite em cheio para Ronaldo, para toda a equipa e opara Portugal pelo êxito alcançado e, desta vez, merecido, em especial pela ascensão (mais psicológica e anímica do que física) tida depois da fase de grupos.
Num canto curto, João Mário bate a bola para Rafael Guerreiro, que faz um centro milimétrico para a cabeça de Ronaldo que, vindo de trás, elevou-se aos “céus” e cabeceou de forma imperial e sem “espinhas”. Foi a abertura do trinco que esteve fechado até aí, até porque Ronaldo esteve praticamente “secado” no decorrer do primeiro tempo.
E para a “dor” ser maior, o 2-0 chegou três minutos depois, com um oportuno (e feliz) desvio da bola rematada por Ronaldo, depois de um ressalto dum defesa galês, com Nani a surgir e a antecipar-se a dois defesas forasteiros e empurrar a bola, em estilo “carrinho”, para dentro da baliza desguarnecida, enganando o guarda-redes, que já se tinha atirado para o lado contrário.
E Portugal esteve perto de chegar ao 3-0, quando (78’) Danilo entrou pela área dentro mas, acossado por um defesa, rematou algo “enrolado” para o guardião defender defeituosamente mas a conseguir apanhá-la um pouco antes da linha de golo.
Assim como Gales podia ter marcado (80’) face a um forte remate feito por Bale para o poste contrário à linha de remate, valendo a defesa magistral de Rui Patrício.
Para tudo na vida, a sorte é um factor determinante. Os saudosos Comandos portugueses tinham como lema “a sorte protege os audazes”. Portugal, quando pode ser audaz, rumou ao seu objectivo principal: ganhar. Teve a sorte dos campeões? Alguma parte (no caso do segundo golo). Mas para ser completo terá que também ser audaz e ter sorte no jogo do dia 10, seja a França ou a Alemanha. Não vamos poder repetir Lisboa e a derrota frente à Grécia, como aconteceu em 2004.
Ronaldo voltou a ser o melhor em campo – para a UEFA – sem dúvida pelo magnífico golo e pelo não menos magnífico remate que Nani desviou para dentro da baliza. Também era a função dos dois. Mas a equipa soube jogar num todo quando foi preciso arriscar a sério (a segunda parte) depois de uma “pasmaceira” mais ou menos sentida no primeiro tempo.
Que podia ter sido diferente se o árbitro assinalasse a grande penalidade sobre Ronaldo (porque não havia dúvida disso) aos dez minutos de jogo, como se referiu.
O País de Gales, que tem uma equipa nem menos nem mais do que Portugal, pareceu ter-se preocupado apenas em jogar a bola de um lado para o outro, deixando toda a iniciativa a Bale. Que até podia ter marcado face a alguns deslizes da defesa portuguesa no primeiro tempo. Mas deu luta e teve um fair play de se lhe tirar o chapéu. O que é muito importante, para terminar o campeonato em beleza – assim se espera – depois da violência verificada inicialmente pelos adeptos russos, que talvez tenham aproveitado a oportunidade para se “vingarem” do escândalo que uma cadeia de televisão alemã divulgou, muito oportunamente, sobre a dopagem de muitos dos ícones do atletismo (e doutras modalidades), que levaram, primeiro, as estruturas da modalidade (Federação Internacional e Associação Europeia) a banirem os seus atletas de tomar parte em todas as competições que fossem efectuadas fora da Rússia, alguns (os que se consideram “limpos”) a aguardar luz verde da própria Federação Internacional (decisão a ser dada no dia 17 deste mês de Julho), para o Comité Olímpico Internacional decidir se podem estar no Rio’2016, com o Tribunal Arbitral do Desporto, em Lausanne, também com o processo em trânsito.
No final do jogo, foi (religiosamente) comovente ver o abraço que Fernando Santos foi dar à família (esposa e filhos), postados na bancada perto do banco de suplentes, assim como o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também presente, se regozijou por este feito da selecção portuguesa.
A equipa de arbitragem sueca, encabeçada por Jonas Eriksson, acabou por ter feito um trabalho positivo, apesar da tal grande penalidade e de outras pequenas coisas, mas que teve o à-vontade suficiente para segurar o jogo de o princípio a fim, com os assistentes Mathias Klasenius e Daniel Warnmark também em bom nível.
Constituição das equipas:
Portugal – Rui Patrício; Cédric, Bruno Alves, José Fonte e Raphael Guerreiro; João Mário, Danilo; Adrien (João Moutinho, 79’) e Renato Sanches (André Gomes, 73’); Nani (Quaresma, 86’) e Ronaldo.
País de Gales – Hennessey; Chris Gunter, Chester, A. Williams e Collins (J. Williams, 65’); Andy King, Taylor, Allen e Ledley (Vokes, 57’); Robson-Kanu (Church, 63’) e Bale.
Disciplina: Amarelo para Joe Allen (7’), Chester (61’), Bruno Alves (70’), Ronaldo (72’) e Bale (88’).