Na verdade, com um triunfo por 7-0 ninguém ousa afirmar seja o que for de menos positivo para a equipa nacional, que fez um ensaio geral a todos os títulos notável, onde o “comandante geral” foi um Ricardo Quaresma soberbo. Deu a marcar (dois golos para Ronaldo), marcou dois golos e dominou em toda a linha, sendo o estratega mor da equipa que, com Ronaldo e João Mário formou o trio de luxo, com o facto de Quaresma ter jogado de principio a fim.
A partir destas premissas, tudo saiu certo e o resultado final até acaba por nem ser exagerado, tal a supremacia (e oportunidades criadas) portuguesa, que desde 2010, no mundial da África do Sul, não tinha conseguido tal desiderato, para gáudio dos 52.536 espectadores que estiveram no Estádio da Luz. Um “encher de barriga” que é de fácil ”digestão” mas que não deve servir como uma “iluminação perfeita” para o europeu, onde tudo será muito diferente.
Mas, até lá, espera-se que todos saibam analisar, pensar, fixar procedimentos que devem estar pressentes em todos os passos, independentemente de quem jogue.
Mandando durante o jogo, Portugal encontrou grandes dificuldades para acertar na estratégia, não por culpa própria mas porque a Estónia se apresentou com um 4x4x2 pouco flexível, o que não permitiu que Quaresma ou Ronaldo dessem muito nas vistas.
Este sistema durou a primeira meia hora, onde apenas João Moutinho (20’) a passe de Raphael Guerreiro, podia criar perigo mas chegou uns segundos depois do defesa, e Ronaldo (32’) se isolou, dirigiu-se para a baliza e rematou forte mas à figura do guardião Londak, que afastou a bola para a frente da baliza de forma a permitir uma recarga de Raphael Guerreiro, mas também à figura do guardião que, desta vez, segurou a bola. Golo que esteve à vista mas não saiu.
No entanto, esta pressão depressa criou “brechas” na defesa da Estónia, cada vez com mais dificuldades para suster o ímpeto luso, levando a que Ronaldo, a centro milimétrico de Quaresma, abrisse o activo (35’), com um golo inteligente marcado de cabeça.
A partir daqui, as “brechas” foram ainda maiores e, três minutos depois, foi Quaresma a fazer o 2-0, depois de uma jogada em que rematou sesgado e levando a bola a beijar a rede lateral interior da baliza de Londak, bem junto ao poste, quando Ronaldo se preparava para a empurrar para dentro da baliza.
E a “queda” visitante tornou-se maior quando (44’), João Mário arrancou pela direita, passou a Ronaldo que a devolveu, sempre em progressão, levando o médio atacante a passar de novo a Ronaldo que, num pontapé feliz (a bola saiu enrolada do seu pé direito, bateu no relvado e passou por cima do guardião, atónito com a jogada), cumprindo o 3-0 que se verificou ao intervalo.
Com esta vantagem, Fernando Santos fez descansar Ronaldo e Cédric, o que foi acontecendo com frequência ao longo do segundo tempo, que começou com uma bola na barra da baliza de Patrício, depois de um potente remate (46’) de Puri.
Poderia pensar-se que, a perder por três, a Estónia podia subir no terreno, mas não aconteceu, por num lado porque Portugal continuava a pressionar e, por outro, a equipa visitante dava nota de um desgaste sem resultados palpáveis, até porque só fez a primeira substituição aos 62’, mantendo o 4x4x2 para tentar não sofrer mais. Pior a emenda que o soneto.
Vieirinha (50’), em contra-ataque, rematou a rasar o poste e seis minutos depois Portugal chegou ao 4-0, no seguimento de um canto marcado por Quaresma, que levou a bola a Danilo que, de cabeça e para o chão, fez um belo golo.
Ainda se batiam palmas por este golo e já Portugal estava a chegar ao 5-0 (60’). Mais um ataque pelo endiabrado Quaresma que, dentro da grande área, fez um potente remate que o guarda-redes defendeu para a frente, com tanto azar que a bola foi directa para o peito do colega defesa Mets e entrou na própria baliza. Nesta altura, Portugal já tinha feito cinco substituições e a Estónia nenhuma.
Mantendo um “forcing” cada fez mais apoiado pelos mais de cinquenta mil presentes no estádio, Portugal chegou ao 6-0 (76’) com o segundo golo de Quaresma, numa jogada começada por Renato Sanches (que nos pareceu ter feito falta sobre um defesa mas que o árbitro não assinalou) que lançou Quaresma para este rematar forte e para o canto da baliza mais longe do guarda-redes.
E a contagem fechou quatro minutos depois (80’), com outro golo magnífico, desta vez por Éder, que recebeu a bola remetida por André Gomes e, sem ninguém por perto, chutou para a baliza. Uma bela jogada e um oportunismo perfeito.
O oitavo golo ainda esteve à vista (87’), quando Renato Sanches chutou forte mas a rasar a parte superior da barra.
Depois do trio maravilha (Quaresma na frente, Ronaldo e João Mário, que “deram cabo” do resultado no primeiro tempo), pode dizer-se que a equipa trabalhou como que em harmónio e com uma melodia perfeita. Ainda assim, Fernando Santos terá ficado com mais dores de cabeça, por isso mesmo, o que pode dificultar as escolhas certas que neste jogo surtiram efeito pleno.
Na Estónia, que durou apenas meia hora, pouco se viu, a não ser a boa vontade. Valeu por isso e pouco mais. Daí a pesada derrota que sofreu. Mas Portugal também esteve imparável. E quando assim acontece, alguém “paga as favas”.
O belga Bart Vertenten – bem como os seus assistentes – quase nem se deu por ele, por um lado porque não cometeu erros e, por outro, porque os jogadores tiveram um comportamento irrepreensível, com plena ética e fair play. E o amarelo mostrado a Kallaste (a três minutos do fim) até era escusado.
Constituição das equipas:
Portugal – Rui Patrício; Cédric (Vieirinha, 45’), Pepe (Ricardo Carvalho, 57’), José Fonte e Raphael Guerreiro; Danilo Pereira (William Carvalho, 69’); João Mário (Éder, 57’), João Moutinho (Renato Sanches, 57’) e André Gomes; Ricardo Quaresma e Ronaldo (Nani, 45’).
Estónia – Londak; Teniste, Baranov, Klavan (Raudsepp, 67’) e Kallaste; Dmitrijev (Sappinen, 62’), Mets, Puri (Gussev, 86’) e Antonov; Kruglov (Marin, 65’) e Anier.