O Comité Olímpico de Portugal, no âmbito do projecto “Viver o Futuro – Abraçar o Futuro”, suportado pelo Comité Olímpico Internacional, através da Solidariedade Olímpica, levou a efeito esta terça-feira uma conferência no quadro da integração, desenvolvimento e paz.
Conferência que surge num quadro de desafios que a Europa enfrenta neste domínio e que deu origem ao programa de apoio a refugiados do COI, através do fundo de apoio extraordinário, a que Portugal se candidatou e que está na origem do projecto que tem vindo a desenvolver. O evento contou ainda com a participação de relevantes entidades nacionais e internacionais envolvidas no acolhimento de refugiados, no propósito de discutir estratégias de optimização de recursos, sustentabilidade e integração social destas populações.
José Manuel Constantino, presidente do COP José Antunes Fernandes, representante do Alto-Comissário para as Migrações – que assinaram um protocolo de cooperação neste âmbito – abriram a sessão,a que se seguiu o primeiro painel do dia, moderado pelo Presidente do Panathlon Clube de Lisboa, Manuel Brito e que teve como oradores convidados Alessandro Pinto, Diretor Global Outreach, Save The Dream e ex-Diretor da Unicef, e Honey Thaljieh, Corporate Communications Manager da FIFA.
Alessandro Pinto abordou vários temas relacionados com a questão dos refugiados e a sua integração pelo desporto, falando de muitos atletas de excelência que foram afastados do desporto ao longo do anos por serem também, nos países em guerra, os melhores guerreiros disponíveis, pelo que se viram obrigados a trocar o desporto pela guerra.
Pinto falou ainda sobre o projecto Save The Dream, que é uma iniciativa do International Centre for Sport Security (ICSS) – liderado pelo português Emanuel Medeiros – e do Comité Olímpico do Qatar, e conta com o apoio do parceiro tecnológico Ooredoo, trabalhando ao lado de organizações de áreas como o desporto, cultura, media, tecnologia e social, este projecto visa capacitar os mais jovens através dos valores do desporto, enquanto promove diálogo intercultural e inovação social.
Honey Thaljieh, falou do futebol como ferramenta de integração e desenvolvimento da paz. A palestiniana foi uma das fundadoras da selecção feminina de futebol da Palestina e a sua primeira capitã. Apesar de viver numa zona de conflito, repleta de tensões, violência, extremismo e insegurança, Thaljieh viu sempre no futebol a forma de alcançar a paz.
Uma vez mais – já é hum hábito internacional – o futebol foi elevado ao patamar de excelência para este tipo de população, não se percebendo porque não outras modalidades.
O programa da manhã fechou com o painel dedicado ao tema “Olhar o Mundo: Apelo à Acção!”, moderado pelo jornalista da RTP, António Mateus, com participação de Teresa Tito de Morais, Presidente do Conselho Português para os Refugiados, André Costa Jorge, Diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados e representante da Plataforma de Apoio aos Refugiados, e Mário Ribeiro, Gestor do Centro Nacional de Apoio ao Imigrante, Alto Comissariado para as Migrações.
Na parte da tarde, os trabalhos ao início da tarde, com um conjunto de testemunhos de refugiados que relataram as suas histórias, prendendo a atenção de todos os presentes. Sara Carmo, velejadora olímpica que garantiu há poucas semanas a sua segunda presença consecutiva nos Jogos Olímpicos, moderou este painel. Entre os três refugiados convidados, Ossamah Almohsen foi o que concentrou maior atenção dado ser protagonista de uma história que chegou a milhões de pessoas em todo o mundo. Com o seu filho ao colo, foi derrubado por uma rasteira de uma jornalista húngara quando fugia da polícia magiar em Roszke, cidade deste país do leste europeu.
Antigo treinador de futebol do al-Fotuwa, na sua terra natal, Deir Ezzor, na Síria, Almohsen acabou por ter uma oportunidade única após este triste episódio, ao receber um convite para integrar os quadros técnicos do Getafe FC, clube espanhol nos arredores de Madrid, sendo um dos treinadores da academia de futebol jovem do clube espanhol.
A sua intervenção começou com um pedido de um momento de silêncio em homenagem de todas as vítimas da guerra da Síria. Almohsen relatou a sua história, que passou pela fuga para a Turquia, onde não encontrou as condições que procurava após sair do seu país de origem. Posteriormente, passou pela Grécia e pela Hungria, onde teve lugar o episódio em cima relatado, que deu origem à sua ida para Espanha. “Estou muito agradecido pelo acolhimento que tive em Espanha, onde espero conseguir um futuro risonho. Encontrei grande apoio, os meus filhos podem frequentar a escola, ter amigos, e eu tenho uma casa e um emprego”.
O seu filho Zeid Almohsen também fez parte deste painel de convidados e revelou que já tem vários amigos na equipa de futebol onde joga.
A mesa foi ainda composta por Hicham Yahyaoui, refugiado marroquino em Portugal que compete pelo Sporting CP na modalidade de Kickboxing, e Assunção Fernandes, da Associação Assomada. Yahyaoui contou a sua história, enfatizando o momento da chegada a Portugal, onde desconhecia tudo, inclusive a língua, sem saber o que ia encontrar. “Os primeiros cinco meses foram muito difíceis, mas a partir de então comecei a aprender português, tive os primeiros amigos, e o facto de gostar de conhecer mais coisas fez-me ter vontade de começar a descobrir mais sobre o país e adaptar-me a esta nova realidade”.
Apesar de já treinar Kickboxing em Marrocos, Hicham Yahyaoui, reconheceu que apenas em Portugal começou a ter treinos mais à séria, o que lhe permitiu evoluir mais rapidamente.
Alessandro Pinto voltou ao palco para ser modelo no papel de moderador da mesa dedicada ao tema “O Desporto no acolhimento aos refugiados: Constrangimentos e Desafios” que teve como convidados Dermot Heninah, responsável pelo projeto “Welcome Package for Refugees” do Comité Olímpico da Irlanda, Maria Machado, responsável pelo projecto “Viver o Desporto – Abraçar o Futuro” do Comité Olímpico de Portugal, e Joaquim Evangelista, Presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol que desenvolveu o projecto “Futebol dá as Boas-vindas aos Refugiados”.
João Paulo Almeida, Director Geral do Comité Olímpico de Portugal, leu a declaração final com recomendações, orientações e um compromisso para a acção de um conjunto de parceiros institucionais, resultado dos trabalhos desta conferência.
Uma última nota para referir que o COI disponibilizou dois milhões de euros para esta causa, com destino aos Comités Olímpicos Nacionais, tendo apenas oito comités aceite o convite (e o dinheiro proporcional a cada um), se bem que apenas Portugal e a Irlanda tenham cumprido o “caderno de encargos”, com acções e actividades correspondentes (desporto) e não no aspecto da solidariedade e ou respostas sociais, estes já apoiados.
Foi pena que a plateia não tivesse maior número de presenças para poder ouvir e perceber de que tipo de causas (e acções) estava em análise, salientando-se ainda o excelente papel que o Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol tem vindo a desenvolver no âmbito mais social.